Kane não poupou esforços para provar uma teoria
Um dos mais conhecidos nomes da medicina no século 20 dos Estados Unidos era Evan O'Neill Kane. Além de ter sido pioneiro em saúde ocupacional e cirurgias de traumas, sua contribuição na área ficou marcada para sempre em âmbitos atípicos.
O homem veio de uma das famílias mais importantes do estado da Pensilvânia. Seu pai era um major que atuou durante a Guerra Civil Americana, e fundou a cidade em que Evan cresceu — não por coincidência chamada de Kane.
Durante os anos em que atuou como cirurgião chefe do Hospital Kane Summit, o profissional salvou muitas vidas, porém, os grandes momentos de sua carreira de sucesso envolveram os procedimentos peculiares que o homem realizou em si mesmo.
Cirurgia acordado
Conhecido por seu espírito inovador, Kane tinha algumas crenças médicas. A maior delas envolvia o uso de anestesia geral para cirurgias consideradas simplórias e sem muito risco de morte. O especialista acreditava que o procedimento não era recomendado em toda cirurgia, e que muitas vezes uma injeção para adormecer o local poderia ser mais válida. Porém, para provar suas teorias, o homem foi longe.
Na visão de Kane, o uso exacerbado de injeção geral, feita a partir do éter, poderia ser mais perigoso do que o ato da cirurgia em si. Por isso, ele decidiu ser sua própria cobaia para sentir literalmente na pele, o que um paciente sentiria se fosse submetido a um procedimento acordado.
Em 1919, o médico realizou o primeiro procedimento no próprio corpo, Kane precisou amputar o próprio dedo que estava tomado por uma infecção, o ato exigiu coragem, no entanto, o que estava por vir seria ainda maior. Dois anos depois, quando precisou passar por uma operação para remover o apêndice, Evan notou que aquela era a oportunidade perfeita de operar a si mesmo e provar seu ponto sobre as anestesias.
Aos 60 anos de idade, em 15 de fevereiro daquele ano, o médico realizou o seu feito mais notório: utilizando apenas uma anestesia local, o homem fez em seu próprio corpo o procedimento que ele já havia comandado mais de 4 mil vezes em outras pessoas.
Com o auxílio de espelhos para dar visão ao local operado e uma equipe ao seu lado de prontidão, Evan realizou uma apendicectomia em si mesmo, acredita-se que ele tenha sido o primeiro a realizar uma cirurgia desse nível dessa maneira.
Naquela época, a apendicectomia era um procedimento bem mais complicado do que o que é realizado atualmente, devido às técnicas médicas que avançaram com o tempo. Entretanto, tudo ocorreu bem e O'Neill foi liberado para sua casa no dia seguinte.
Práticas perigosas
Mais de 10 anos depois da retirada de seu apêndice, o doutor chamaria a atenção da mídia novamente com outra técnica cirúrgica inovadora — e peculiar. Para corrigir uma hérnia inguinal, no ano de 1932, o cirurgião realizou outra tática invasiva em si mesmo.
A cirurgia foi um marco e a imprensa estava em peso no hospital Hospital Kane Summit, para cobrir o feito. Dessa vez, o processo era mais complicado e perigoso do que o anterior, devido ao grande risco de uma perfuração na artéria femoral.
A operação durou cerca de duas horas, mas, nessa ocasião o doutor acabou apresentando sonolência e não conseguiu realizar as suturas finais. Contudo, Kane já estava de volta ao trabalho depois de 36 horas da realização do procedimento.
Curiosidades
Na comunidade médica outros acontecimentos marcaram a história de Evan O'Neill, como por exemplo, o fato de que o médico era defensor de pequenas tatuagens idênticas feitas em bebês e mães — para evitar que qualquer troca fosse realizada em seu hospital, prática que ele chegou a realizar algumas vezes.
Outro episódio marcante em sua vida foi o julgamento de seu filho Elisha Kent Kane, acusado de ter matado a esposa Jenny G. Kane, por afogamento. O homem foi absolvido graças à ajuda de seu pai, que apresentou evidências científicas de que Jenny tinha condições cardíacas que contribuíram com seu afogamento.
Entretanto, tamanha emoção foi demais para o médico, que acabou falecendo poucos meses depois da fatídica operação da hérnia. Evan O'Neill Kane morreu aos 70 anos, em 1 de abril de 1932, na cidade de Kane, Pensilvânia.
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