Servindo como tradutora do governo soviético, a jovem ficou responsável por descobrir se aqueles eram os restos do ditador
No dia 30 de abril de 1945, o bunker onde Adolf Hitler se escondia foi tomado pelo som oco do tiro que o Führer deu em si mesmo. Daquela noite em diante, muitos outros tiraram suas próprias vidas, como aconteceu com Joseph Goebbels.
A fim de escapar dos soviéticos até mesmo após a morte, o corpo de Hitler foi queimado no lado de fora do Führerbunker. Do cadáver carbonizado, os legistas conseguiram retirar apenas os dentes, que seriam usados para definir a identidade do ditador.
Segundo o Times of Israel, com apenas 25 anos na época, Elena Rzhevskaya foi a mulher que recebeu em suas próprias mãos, a caixa que guardava os dentes de Adolf Hitler. Trabalhando como intérprete, ela ficou responsável pelo trabalho porque todos os outros militares estariam comemorando o Dia da Vitória — uma festa que seria regada a bastante álcool.
Fluente em alemão
Elena Kagan nasceu em meados de 1919, na Bielo-Rússia, filha de um advogado e de uma dentista. Formada pelo Instituto de Filosofia, Literatura e História de Moscou, ela casou-se ainda muito jovem com um poeta judeu, com quem teve uma filha, em 1939.
Com o começo da Segunda Guerra Mundial, já viúva de seu esposo — que foi morto em batalha — a mulher foi designada para trabalhar em uma fábrica de munições. Destemida, ela pediu que fosse transferida para o front.
Em fevereiro de 1942, contudo, seus oficiais logo perceberam que Elena era fluente em alemão e decidiram que ela teria um novo papel. Assim, a jovem passou a servir como intérprete de guerra e logo tornou-se a tradutora oficial do governo soviético.
Uma grande tarefa
Após a morte de Adolf Hitler, Elena era uma das muitas oficiais soviéticas que procurava pelo corpo do ditador nos arredores do bunker. Foi assim que ela acabou com a pequena caixa — e uma ordem expressa — em mãos.
O objetivo de Elena era encontrar algum dentista em Berlim que pudesse confirmar a que aqueles eram os dentes do Führer — a única coisa que restava de Adolf Hitler. Por sorte, durante sua procura, a oficial encontrou Kathe Heusermann.
Assistente de um dentista nos últimos dias da Segunda Guerra, a jovem profissional havia visitado Hitler dias antes da morte do ditador. Assim, ela lembrava com exatidão de cada detalhe do sorriso do Führer.
Dentes, esquemas e descobertas
De memória, Kathe desenhou um rascunho da arcada de Hitler — imagem que logo foi comparada com os esquemas do patologista fez a autópsia do corpo carbonizado. Estava mais do que certo: aqueles eram mesmo os dentes do ditador.
Descoberta a verdade sobre a arcada dentária de Hitler, o governo soviético foi notificado e as mulheres tornaram-se grandes amigas. Elena e Kathe, no entanto, nunca receberam o reconhecimento que mereciam pelo feito.
No sentido contrário do que era esperado, Joseph Stalin decidiu que o suicídio de Hitler deveria ser um segredo militar e, assim, a descoberta das mulheres foi escondida a sete chaves. Elena e Kathe, por sua vez, foram separadas pelo governo.
Fim da guerra
De um lado, a assistente de dentista foi enviada para um gulag por dez anos; enquanto, do outro, Elena retornou para Moscou. Nascida na tradição judaica, a antiga intérprete achou que seria melhor mudar seu sobrenome para Rzhevskaya e tornou-se escritora.
Foi apenas depois da morte de Stalin que Elena conseguiu colocar em palavras todas as suas experiências, além de publicar a obra Memórias de um intérprete em tempo de guerra. A escritora também foi a primeira a ler os diários de Joseph Goebbels e, a partir deles, criou um livro sobre o ministro da propaganda nazista.
Desligada do Exército Vermelho desde o verão de 1945, ElenaRzhevskaya é conhecida por ter traçado um dos retratos mais sinceros da Segunda Guerra Mundial em seus livros. Consagrada, ela faleceu em abril de 2017 em Moscou, aos 97 anos.
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