Além da comunicação entre povos, linguás remetem a influência dos grandes impérios da humanidade e a trajetória de identidades culturais milenares
As palavras acompanham impérios em suas conquistas, divulgam ideias que influenciam multidões e anunciam as mercadorias que todo mundo compra. Por isso, a história dos idiomas usados entre os povos para se comunicarem conta, além da influência dos grandes impérios da humanidade, a trajetória de identidades culturais milenares.
A primeira língua franca do mundo foi a dos sumérios, os pioneiros da escrita. Entre 3500 e 3000 a.C., foi falada do Norte da África à Ásia Menor. Durante a dinastia Acádia, fundada em 2470 a.C., o acadiano espalhou-se por toda a Mesopotâmia.
Durante os impérios da Assíria e da Babilônia, a língua aramaica, originada na Síria, tornou-se o idioma internacional. Sua utilização foi amplamente difundida desde o Egito até a Índia.
Na região hoje (equivalente à Palestina), chegou a suplantar o hebraico, entre 721 e 500 a.C. O aramaico foi provavelmente a língua falada por Jesus e seus discípulos, séculos depois.
Nesta época, o príncipe Ciro, o Grande, deu início ao expansionismo persa, que se apoderou de uma área gigantesca — que incluía Babilônia, Egito e Macedônia. As derrotas contra os gregos enfraqueceram o império, que acabou conquistado por Alexandre, o Grande.
Já era falado em todo o leste do Mar Mediterrâneo por causa do intenso comércio marítimo promovido pelas cidades gregas. Com Alexandre, a língua se espalhou para o Oriente e para o norte, em territórios como o Afeganistão. O grego continuou sendo amplamente falado até 1453, com a queda do Império Bizantino, influenciando línguas atuais como o português.
Teve origem na região do Lácio, atual Itália, e espalhou-se com a dominação do Império Romano sobre a Europa. Por conta da influência da Igreja Católica, o latim permaneceu mesmo após a queda de Roma, em 476, originando as línguas latinas: italiano, espanhol, português e romeno. Nas igrejas e nas universidades, foi falado até o começo do século 20, pois era referência da cultura sacra e clássica.
Durante o auge do Império Otomano e do comércio realizados pelas cidades de Gênova e Veneza com o Oriente, o árabe foi o idioma mais usado entre os intermediários para combinar preços e entregas de mercadorias. Para expressar-se intelectualmente, no entanto, o europeu do Renascimento continuou usando o latim.
Depois que clássicos como Os Lusíadas, de Camões, tornaram cultas as línguas das colônias romanas, o avanço marítimo tratou de difundi-las na Ásia, África e América. No século 16, foram usadas não só pelos governos coloniais, mas entre oficiais locais e europeus de várias origens.
No Brasil, o resultado da mistura do tupi, "a língua brasílica", com traços portugueses originou a língua geral, falada entre as tribos paulistas, jesuítas, bandeirantes e escravizados africanos, por mais de dois séculos. Em 1758, quando o Marquês de Pombal proibiu o uso de tupi na colônia, apenas uma em cada três pessoas falava português além da língua geral.
O idioma espalhou-se pela Europa não porque a França era um país economicamente dominante — e sim por sua força cultural. O francês era falado pela corte, pela diplomacia e pelos artistas de diversos reinos. A moda durou até a Segunda Guerra Mundial.
Com o fim Guerra, os EUA surgiram como a nação mais poderosa do planeta, transmitindo sua cultura, hábitos e idioma aos países derrotados, como o Japão, e às nações periféricas.
O inglês virou a língua franca no turismo, negócios e até nos estudos científicos e obras culturais, áreas anteriormente ocupadas pelo francês e pelo latim. Agora, há quem diga que o futuro é o mandarim.