Naturalista visitou nosso país durante sua expedição a bordo do HMS Beagle
O naturalista Charles Darwin tinha apenas 23 anos quando chegou ao Brasil. Servindo como uma espécie de assistente do cientista Robert Fitzroy, o britânico deixou sua terra natal em 27 de dezembro de 1831 à bordo do HMS Beagle.
Durante sua expedição, planejada inicialmente para durar apenas um ano, Darwin teve a oportunidade de estudar a fauna e flora brasileira, e se encantar com as belezas naturais de nosso país.
Os quase cinco anos de expedição renderam ótimos frutos. Além do essencial 'A Origem das Espécies', lançado em 1859, o britânico também publicou a ‘Viagem do Beagle’, onde compartilha suas memórias da viagem e ainda apresenta um diário com detalhes sobre diversas áreas de estudo, como a antropologia, biologia e geologia.
Saiba mais sobre a viagem de Charles Darwin ao Brasil através de 5 curiosidades descritas pelo naturalista em seu diário:
Embora Fernando de Noronha tenha sido o primeiro ponto de parada de Charles Darwin no Brasil, foi Salvador que chamou a atenção do naturalista. Ele ficou encantado com a natureza da região. Já a chuva tropical daqui o fez lembrar um pouco da Inglaterra.
Fui surpreendido por uma tempestade tropical. Procurei me abrigar debaixo de uma árvore, cuja copa cerrada seria impermeável à chuva comum da Inglaterra. Aqui, porém, após alguns minutos, uma pequena cachoeira descia pelo enorme tronco”, relatou em seu diário.
Mas nem mesmo esse fator o fez deixar de se encantar por Salvador. “Delícia é termo insuficiente para dar conta das emoções sentidas por um naturalista que, pela primeira vez, se viu a sós com a natureza no seio de uma floresta brasileira”.
Mas nem tudo foram flores para o britânico. Ele esteve na capital baiana entre o final de fevereiro e a primeira quinzena de março. Sendo assim, Charles Darwin conheceu o Carnaval baiano. Mas a festa tradicional não o agradou tanto.
Hoje é o primeiro dia de Carnaval, mas Wickham, Sullivan e eu não nos intimidamos e estávamos determinados a encarar seus perigos. Esses perigos consistem principalmente em sermos, impiedosamente, fuzilados com bolas de cera cheias de água e molhados com esguichos de lata”, descreveu.
Apesar de parecer determinado a encarar os foliões, a experiência não foi a melhor possível. Ensopado após ser atingido pelas bolas de água, Darwin ainda foi coberto por farinha. "Difícil manter nossa dignidade", resmungou.
Após 18 dias em Salvador, o britânico foi até o Rio de Janeiro, por onde passou quatro meses. Todo o trajeto da viagem serviu para Darwin se maravilhar com a infinidade de espécies que viu.
A nossa flora também impressionou o pesquisador. Segundo matéria da Superinteressante, ele se encantou tanto pela bananeira que sugeriu que o pai plantasse um pé em casa. O pedido foi acatado, mas a árvore cresceu tanto que ocupou toda sua estufa.
A biodiversidade brasileira deixou o naturalista encantado. Enquanto esteve no Rio, fez uma grande coleta de insetos, plantas e aves, que foram enviadas em navios até Londres, onde eram classificadas e analisadas.
Se em Salvador Darwin teve que lidar com os foliões, no Rio o inimigo foi outro: a burocracia. Sim, o país já sofria com essa questão desde essa época. Para poder explorar o interior do estado, por exemplo, o britânico teve que esperar uma autorização que demorou um dia para ser concedida.
Nunca é agradável submeter-se à insolência de homens de escritório. Mas aos brasileiros, que são tão desprezíveis mentalmente quanto são miseráveis as suas pessoas, é quase intolerável”, se queixou em seu caderno de anotações.
Durante todo o tempo que ficou na Cidade Maravilhosa, Darwin se hospedou em uma casa em Botafogo, bem próximo do Corcovado. Um de seus maiores prazeres era observar o pôr-do-sol enquanto descansava sozinho no jardim do local. Segundo o próprio, a beleza natural do Rio faria qualquer um “lamber o pó da sola dos pés de um brasileiro”.
Embora a natureza o tenha encantado, o Brasil deixou uma péssima impressão na expedição de Darwin. O principal fator para isso foi a escravidão. Criado em uma família antiescravagista, o britânico presenciou de perto os horrores sofridos pelos negros aqui no Brasil. Importante ressaltar que a Lei Áurea só foi assinada cerca de cinco décadas depois de sua passagem por aqui.
Poucos dias após chegar ao Rio, foi convidado por um inglês para conhecer suas propriedades. Passando por uma fazenda na Lagoa de Maricá, que fica a 60 quilômetros da capital carioca, ele se deparou com um grupo de escravos que tentava fugir.
Caçados, os negros se viram encurralados quando foram cercados em um precipício. Segundo Darwin, uma velha mulher preferiu se jogar para a morte a ser capturada.
Praticado por uma matrona romana, esse ato seria interpretado e difundido como amor à liberdade. Mas da parte de uma pobre negra, se limitaram a dizer que não passou de um gesto bruto", relatou.
Cerca de uma semana depois, quando passava por Conceição de Macabu, viu um Capitão do Mato ameaçar separar 30 famílias ao vendê-las para diferentes donos. “Um ato atroz que só poderia acontecer em um país escravista”.