Sérgio Fleury foi um dos mais notórios apoiadores do regime — e acabou sendo morto por ele
Sérgio Fernando Paranhos Fleury, o temido Delegado Fleury, se formou em direito em 1966, aos 33 anos de idade. Dois anos depois foi requisitado pela ditadura militar brasileira para atuar no DOPS (Departamento de Ordem Política e Social). Seu papel: lutar contra a oposição do regime.
Ficou conhecido por ordenar a execução de militantes, em São Paulo. E, principalmente, por comandar a operação que capturou e matou o líder guerrilheiro Carlos Marighella, em 1969.
Seus atos eram vistos como impecáveis por parceiros do DOPS, em entrevista um deles — não identificado — chegou a afirmar que “em cada dez diligências, sete eram proveitosas”. A sua tática usada era a mesma em vigor na captura de ladrões ou assassinos. Primeiro eles prendiam um membro da equipe, e então o torturava até que ele entregasse os companheiros.
Segundo o Ministério Público de São Paulo, Fleury era o principal líder do Esquadrão da Morte, e se apresentava como tal. Num momento no qual o Esquadrão não estava sendo bem visto internacionalmente, Fleury foi condenado à prisão pelo STF, mas não chegou a cumprir pena. Ao contrário, foi condecorado pelo Exército Brasileiro com a Medalha do Pacificador e pela Marinha do Brasil com a Medalha Amigo da Marinha.
Esteve envolvido em diversos casos de execução e tortura, além de envolvimento com tráfico de drogas — esta ligação resultou na morte de Domiciano Antunes Filho, conhecido como Luciano.
Rose Nogueira, jornalista e ex-militante da Ação Libertadora Nacional, presa em novembro de 1969, em São Paulo, foi torturada na sala do Delegado Fleury. Ela lembra que dentro da sala havia um desenho de caveira e embaixo as letra EM (Esquadrão da Morte). A jornalista sofreu com torturas cruéis durante dias, logo após ter dado a luz a seu único filho — devido aos brutais ataques ela ficou estéril.
“Me virou de costas, me pegando pela cintura e começaram os beliscões nas nádegas, nas costas, com o vestido levantado . Um outro segurava meus braços, minha cabeça, me dobrando sobre a mesa. Eu chorava, gritava, e eles riam muito, gritavam palavrões. Só pararam quando viram o sangue escorrer nas minhas pernas”, falou ela em entrevista ao jornal GGN.
Fleury foi contra a anistia, e morreu afogado em 1979, no entanto, seu corpo foi sepultado sem passar por uma autópsia. O policial Claudio Guerra, em seu livro Memórias de uma Guerra Suja, lançado em 2012, afirmou que a ditadura estava por trás da morte do delegado. “Fleury teria sido dopado e levado uma pedrada na cabeça antes de cair no mar, fato que justificaria a estranha ausência da necrópsia do cadáver”, diz um trecho da obra.
De acordo com o portal oficial do governo brasileiro, Memórias da Ditadura, Cláudio Guerra declarou em reunião: “O delegado Fleury tinha de morrer. Foi uma decisão unânime de nossa comunidade, em São Paulo, numa votação feita em local público, o restaurante Baby Beef”.
Quando sua morte foi anunciada no Comício do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC no estádio da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo, cerca de cem mil pessoas festejaram e aplaudiram o fim de um dos maiores sádicos dos Anos Chumbo.