Após vários ícones musicais morrerem em pouco tempo aos 27 anos, a mídia criou o que ficou conhecido como "Clube dos 27"; entenda o fenômeno!
Publicado em 14/11/2024, às 14h00
Em 3 de julho de 1969, o mundo se surpreendeu com a morte do jovem e talentoso músico Brian Jones, um dos membros fundadores dos Rolling Stones, aos 27 anos. Ele foi encontrado afogado na piscina de sua casa em Sussex, menos de um mês depois de ser desprendido do grupo, devido ao uso desregrado de drogas.
Porém, o que pareceu uma tragédia isolada do mundo do rock, sendo Jones apenas mais uma vítima do tão famoso estilo "sexo, drogas e rock n' roll", não ficaria esquecido por muito tempo. Somente nos dois anos que se seguiram, outras três estrelas da música influentes morreram com a mesma idade — dando origem ao famoso "Clube dos 27".
Em 18 de setembro de 1970, o lendário guitarrista Jimi Hendrix morreu após uma intoxicação por comprimidos e álcool; em 4 de outubro do mesmo ano, Janis Joplin sofreu uma overdose letal de heroína e álcool; e no aniversário de dois anos da morte de Jones, em 3 de julho de 1971, o vocalista e líder do The Doors, Jim Morrison, sofreu com insuficiência cardíaca após uma overdose de drogas.
Bastaram quatro mortes de músicos famosos, sob condições semelhantes e em um curto período, para que a mística em torno do tal "Clube dos 27" fosse criada e, mais ainda, disseminada.
Com isso, o grupo nunca foi completamente esquecido, e até mesmo outros artistas — inclusive fora da bolha do rock — que morreram posteriormente, também aos 27 anos, foram "adicionados" à lista.
Eles são: Pete Ham, fundador da banda Badfinger que cometeu suicídio em 1975; o pintor e grafiteiro Jean-Michel Basquiat, que sofreu uma overdose em 1988; o fundador do Nirvana, Kurt Cobain, que disparou em si mesmo com uma arma de foto em 1994; e a cantora britânica Amy Winehouse, que sofreu uma intoxicação alcoólica em 2011.
Sendo o caso de Amy o mais recente, até hoje, mais de 5 décadas após a morte de Brian Jones, o "Clube dos 27" não foi esquecido.
Muitos imaginam que, por alguma razão, artistas com uma carreira meteórica e envolvidos com drogas e álcool tenham maior risco de vida quando chegam a essa idade. Mas um novo estudo, "Dependência de caminho, estigmergia e reificação memética na formação do mito do Clube dos 27", publicado na PNAS, contraria essa crença popular.
O estudo esclarece que o "Clube dos 27" nada mais é que uma crença popular e sem qualquer base empírica. Outros ícones musicais como Mick Jagger, com 81 anos, Paul McCartney, com 82, Ozzy Osbourne, 75 e Robert Plant, 76 — respectivamente fundadores dos Rolling Stones, Beatles, Black Sabbath e Led Zeppelin — seguem vivos até hoje.
Porém, "embora a idade de 27 anos não represente maior risco de mortalidade para pessoas notáveis, aqueles que morreram aos 27 anos são, como grupo, excepcionalmente notáveis em comparação com aqueles que morreram em outras idades jovens", conclui o estudo.
Zackary Okun Dunivin, especialista em ciência da computação e sociologia cultural na Universidade de Indiana, e principal autor do estudo, analisou dados extensos sobre artistas que morreram aos 27 anos, e ele argumenta que, embora o "Clube dos 27" não seja uma maldição, não é possível descartá-lo como um fenômeno cultural.
A mística dessas mortes foi fortalecida por outros paralelos misteriosos, incluindo a participação na cena musical contracultural e no circuito de festivais, a natureza das mortes relacionadas a drogas, e a ocorrência da quarta e última morte [Morrison] no segundo aniversário do primeiro [Jones]", acrescenta o especialista.
Vale mencionar que, em 2011, um estudo publicado na British Medical Journal (BMJ) desenvolvido pelo estatístico Martin Wilkewitz examinou as "vítimas" do clube sinistro, mas concluiu que não havia nenhum pico de risco exato para músicos famosos aos 27 anos.
Porém, ele reconheceu que há "alguma evidência" de aumento de mortes de músicos com 20 a 40 anos na década de 1970 e início da década de 1980.
Mas o número caiu, de forma que na década de 1980 "não houve mortes nesta faixa etária". Isso provavelmente se deve aos avanços no tratamento de dependências a drogas que ocorreram na época, bem como nas mudanças da indústria musical, que passou "do hard rock dos anos 1970 para o pop dominado pelos anos 1980".
Segundo o Teorema de Thomas, formulado pelo sociólogo William I. Thomas, "se os homens definem as situações como reais, elas são reais nas suas consequências". A partir dessa ideia, Dunivin conclui em seu estudo que "dada a lenda persistente do Clube dos 27, propomos que o clube seja reificado (tornado real) como um fenômeno cultural e mensurável nas suas consequências, mesmo que as taxas de mortalidade empíricas não o apoiem". Por isso que celebridades que morrem aos 27 anos acabam chamando mais atenção que outras, segundo o El País.
É óbvio que os jovens de 27 anos não têm maior probabilidade de morrer do que os de 26 ou 28 anos. O que me motivou nesta história é que o mito é real", explica Dunivin. "Como destacamos aqueles que morrem aos 27 anos, realmente parece que mais pessoas estão morrendo nessa idade. Como esta história é tão conhecida, um mito global, pareceu-me significativo escrever sobre este estranho efeito e explorar alguns conceitos de complexidade no contexto da mudança cultural".
Além disso, a investigação pontua que, devido a um mecanismo de contágio do mito do Clube dos 27, a adesão ao grupo também pode acabar aumentando. Este mecanismo facilita a difusão de conhecimentos culturais específicos, transformando o clube em um "fenômeno real", conforme o estudo.