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Matérias / Pablo Neruda

Com hidrocefalia, filha foi 'esquecida' por Pablo Neruda

Poeta vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, passado de Pablo Neruda envolve a história da criança que foi abandonada

Fabio Previdelli
por Fabio Previdelli
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Publicado em 15/02/2023, às 19h00 - Atualizado em 09/06/2023, às 00h09

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O poeta Pablo Neruda/ Crédito: Domínio Público - Domínio Público
O poeta Pablo Neruda/ Crédito: Domínio Público - Domínio Público

Vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, o chileno Pablo Neruda morreu em 23 de setembro de 1973. Oficialmente, a história aponta que ele faleceu devido a um câncer de próstata e desnutrição, mas um estudo forense recente apontou que Neruda foi envenenado. 

Amigo de Salvador Allende, presidente socialista eleito democraticamente que caiu diante do golpe de Augusto Pinochet, Pablo era critico ferrenho da ditadura chilena. Curiosamente, ou não, faleceu 12 dias após a tomada de poder do governo militar. 

+Pablo Neruda foi morto por envenenamento, aponta estudo forense;

Embora seja reverenciado por seus contos, poemas e seus outros trabalhos, Pablo Neruda foi alvo de um grande debate no país anos antes da controversa recente. Desde 2010, a Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados do Chile propôs quatro iniciativas legais para alterar o nome do aeroporto internacional de Santiago para homenagear o poeta. 

O poeta Pablo Neruda/ Crédito: Domínio Público

Nada mais justo visto a importância de sua figura — apenas o terceiro latino-americano a ganhar um Prêmio Nobel. No entanto, Neruda possui momentos controversos em sua vida. 

O abuso

Em 1974, Pablo Neruda publicou seu livro de memórias ‘Confesso que Vivi’. À época pouco se falou sobre o episódio resgatado após a sugestão da alteração. Acontece que o poeta havia descrito uma memória questionável de seus tempos como diplomata chileno no Ceilão — atualmente conhecido como Sri Lanka. 

Na obra, informou a BBC em matéria de 2018, Neruda fala sobre o ‘encontro’ que teve com uma pobre funcionária, responsável por recolher uma lata onde ele deixava suas fezes. "Certa manhã, muito determinado, segurei-a firmemente pelo pulso e olhei-a no rosto." 

Não havia linguagem com a qual eu pudesse falar. Ela se deixou ser guiada por mim sem um sorriso e logo ficou nua na minha cama", relatou. 

"Foi o encontro de um homem com uma estátua. Ela permaneceu todo o tempo com os olhos bem abertos, impassível. Ela fazia bem em me desprezar. A experiência não se repetiu", finalizou. 

O poeta Pablo Neruda/ Crédito: Domínio Público

A relação forçada sem o consentimento de uma mulher pobre dividiu os chilenos. O sobrinho do poeta, Rodolfo Reyes, defendeu que o relato faz parte de um livro de memórias poéticas, portanto, não deve ser tomado pelo sentido literal

"Além disso, Neruda era um jovem de 24 anos, sozinho na Ásia", disse à BBC News. "O que ele relata deve ser visto naquele contexto. E, se aconteceu, foi em sua juventude, com uma falta de experiência total. Mais tarde, na mesma passagem, ele disse que não voltou a fazer aquilo, e pede desculpas nesse sentido."

Através de seu Twitter em 2018, a deputada Pamela Jiles contestou a escolha de Neruda para dar nome ao aeroporto: "Não é tempo de homenagear alguém que maltratou as mulheres, que abandonou uma filha doente e confessou um abuso. Menos ainda para representar a imagem do país". 

Abandono paterno

Além da 'polêmica relação', Jiles trouxe à tona outro assunto questionável sobre a vida do Nobel de Literatura: o abandono paterno. Ao longo de sua vida, Pablo Neruda teve uma única filha, Malva Marina, fruto da relação com a holandesa María Antonieta Hagenaar

Malva nasceu com hidrocefalia, enfermidade responsável por sua morte precoce, aos 8 anos, destacou a AFP em 2018. A menina viveu todos esses anos sob os cuidados da mãe, visto que Neruda se manteve afastado durante todo esse tempo. 

O que torna a situação pior é uma carta que ele escreveu à Sara Tornú, uma amiga. Na missiva, ele diz: "Minha filha, ou como a chamo, é um ser perfeitamente ridículo". A história da criança também foi alvo da escritora holandesa Hagar Peeters, que lançou a obra 'Malva' em 2018.

O poeta Pablo Neruda/ Crédito: Domínio Público

Segundo o biógrafo Mark Eisner, autor de ‘Neruda: O chamado do poeta (2018)’, Pablo “teve vergonha” da filha devido ao fato dela nascer com uma doença congênita. Ele a abandonou quando tinha apenas dois anos. 

"Há várias cartas conservadas em que a mãe pedia dinheiro desesperadamente, que ele fizesse as tarefas de pai. Neruda as ignorou, muitas vezes não enviou dinheiro. Elas passavam por uma situação muito difícil, era Segunda Guerra Mundial", explicou à BBC em 2018.