Celia e Fidel foram amantes por mais de 20 anos. E ela influenciava as decisões do comandante
Em pleno combate, uma guerrilheira de 36 anos, cabelos negros, conquistou o coração do comandante. Embora os dois nunca tenham assumido o romance publicamente, tudo leva a crer que Fidel Castro e Celia Sánchez mantiveram um relacionamento de mais de duas décadas, iniciado na manhã de 16 de fevereiro de 1957, quando o líder da revolução a conheceu no acampamento, em Sierra Maestra. Sob o codinome Norma, Celia foi a primeira mulher a pegar em armas. E alguns historiadores afirmam: sem ela, o processo revolucionário poderia ter tomado outro rumo.
Antes de conhecer Fidel, Celia já era uma figura importante nos bastidores do movimento. Filha de um médico ligado ao Partido Ortodoxo, participou ativamente dos preparativos para o desembarque dos 82 guerrilheiros que chegaram a Cuba no Granma, em dezembro de 1956. Coube a ela a tarefa de obter cartas náuticas e tábuas de maré que garantissem uma viagem tranquila do México até a ilha, sem levantar suspeitas. Mas a confusão que marcou a chegada do iate impediu que Celia e Fidel se conhecessem naquele momento.
Quando os combatentes conseguiram se embrenhar nas montanhas, Celia tornou-se uma peça fundamental da guerrilha. Principal elo entre o acampamento rebelde e os partidários do movimento na cidade de Manzanillo, onde morava, ela passou a cuidar do envio de suprimentos, armas e munições para Sierra Maestra, além de recrutar camponeses. Sua importância era tal que, à época, Ernesto Guevara declarou: quando escreverem um livro sobre a história da revolução, o nome de Celia deverá obrigatoriamente estar na capa.
Para Rich Haney, autor de Celia Sánchez: The Legend of Cuba’s Revolutionary Heart (Celia Sánchez: A Lenda do Coração Revolucionário de Cuba), sua atuação nos primeiros passos da revolução, em solo cubano, foi mais decisiva até que a de Fidel Castro. Não fossem as articulações de Celia, a guerrilha teria permanecido isolada nas montanhas, sem chances de vitória.
“É justo que existam inúmeros monumentos erguidos a ela em Cuba, em número muito maior do que aqueles em homenagem a Fidel”, diz Haney. O historiador Tad Szulc, biógrafo do comandante, concorda: “Sem Celia Sánchez, a história poderia ter sido bem diferente”.
SOMBRA PROTETORA
Quando Celia começou a ser perseguida em Manzanillo, ficou impossível permanecer na cidade. Ela decidiu, então, subir as montanhas e unir-se à linha de frente. Natural da região, conhecia os segredos da mata. E revelou-se uma guia de primeira, especialista em encontrar água potável, abrir novas trilhas e identificar frutos silvestres que pudessem ser comidos, sem risco de envenenamento.
Celia transformou-se numa espécie de secretária de Fidel. E logo ficou claro para os revolucionários que havia algo mais entre o comandante e a nova integrante. “Ela era confidente, secretária, mulher e sombra protetora”, escreve Claudia Furiati em Fidel Castro: Uma Biografia Consentida.
No livro Fidel: A Critical Portrait (Fidel: Um Retrato Crítico), Tad Szulc registra um detalhe que revela o alto grau de intimidade entre os dois: no quartel-general de La Plata, havia até um dormitório com cama de casal. Quando a revolução triunfou, Celia Sánchez assumiu a chefia do gabinete de Fidel e, em seguida, a secretaria da presidência do Conselho de Ministros de Cuba. Permaneceu na função até sua morte, em 1980, aos 60 anos, vítima de câncer.
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