Tornando-se um dos mais importes exploradores da Antártica, o irlandês teve uma trajetória impressionante mesmo com sua baixa resistência
A Antártica sempre foi um local de curiosidade para exploradores e pesquisadores no geral. Ao longo dos anos, muitas pessoas foram movidas por seus instintos de pioneiros para investigarem os mistérios que a região guarda para si.
Ernest Henry Shackleton foi uma dessas pessoas. Desde cedo, o irlandês já demonstrava interesse em explorar locais recônditos, participando de sua primeira expedição aos apenas dez anos de idade. Uma de suas primeiras experiências foi ocupar o papel de terceiro-oficial na Expedição Discovery.
Ele permaneceu ao lado do capitão Robert Falcon Scott de 1901 a 1904. O curto período foi em decorrência a falta de vitamina C sofrida pelo jovem, que fez com que ele passasse por episódios de hemorragia e queda da resistência às infecções.
Esse problema, no entanto, não impediu o homem de se tornar um dos principais exploradores durante o período intitulado Idade Heroica da Exploração da Antártida. Durante sua vida, ele chegou a liderar três expedições britânicas à região, com uma experiência invejável.
Para chegar nesse ponto de sua carreira, ele também teve que lidar com diversos fracassos. Durante a Expedição Discovery, por mais que eles tenham conquistado um novo marco ao chegar a uma parte inexplorada, a jornada foi marcada por diversas infecções que resultaram na morte de 22 cachorros, enquanto três homens enfrentavam a cegueira da neve.
Infeliz com a situação, o explorador decidiu dar mais uma chance à Antártida e voltou ao local em 1907, por meio da Expedição Nimrod. Acompanhado de três homens, conseguiram chegar até o Farthest South, há 180 quilômetros do Polo Sul. Lá realizaram a primeira escalada no monte Érebo e descobriram o Polo Sul Magnético.
Devido à conquista, Ernest ficou famoso e foi condecorado como cavaleiro pelo rei Eduardo VII e recebeu uma Medalha de Ouro da Real Sociedade Geográfica. Mas isso não o fez parar. Pelo contrário, Henry desejava cada vez mais ir além.
Para isso, decidiu colocar em prática o que ele dizia ser seu maior desafio da exploração do local: cruzar o continente passando pelo polo. Entre fracassos e conquistas, seus fãs — e ele mesmo — torciam para que essa expedição fosse um total sucesso. Sua caminhada, todavia, foi repleta de situações inesperadas.
A Expedição Transantártica Imperial
Inicialmente, Shackleton explicou que a exploração contaria com dois navios com 56 pessoas no total: o primeiro, Endurance, seria responsável pelo transporte do grupo principal para o mar de Weddell. Já o segundo, Aurora, levaria a segunda remessa de pessoas, como um grupo de apoio durante a travessia de 2.900 quilômetros.
Foi em 8 de agosto de 1914 – em tempos de Primeira Guerra Mundial – que os navios deixaram para trás as águas britânicas e seguiram caminho. Não demorou para que a tripulação enfrentasse os primeiros desafios.
O Endurance, que se dirigia para o sul, encontrava cada vez mais dificuldades para navegar. Ao chegar ao mar de Weddell, a condição piorou, fazendo com que o navio ficasse preso em uma geleira.
Sem solução e sem poder contar com a ajuda do Aurora, já que a embarcação estava ancorada e impossibilidade de deixar o local devido a uma tempestade, Shackleton teve que mudar os planos. Agora, a embarcação serviria como abrigo até a primavera, quando ocorreria a quebra do gelo.
Após oito meses de espera, Ernest e seus homens acreditavam que o momento tão esperado havia chegado. Todavia, as geleiras — que agora estavam fragmentadas — passaram a exercer pressão no casco do navio, fazendo com que ele fosse danificado.
Para contornar a situação, Henry decidiu que voltaria a baía Vahsel. O barco, porém, não estava nas melhores condições: devido aos buracos causados pelos pedaços de gelo, muita água começou a entrar no navio.
Naquele momento, Shackleton gritou: “O navio vai afundar!”, e todos tiveram que sair e caminhar para o acampamento no gelo. Em pouco tempo, puderam presenciar o desaparecimento do Endurance na água gelada.
Má sorte
A equipe de exploradores passou diversos meses em placas de gelo, mas nunca deixaram de procurar por um local mais seguro. Para isso, decidiram migrar para uma área mais próxima a ilha Paulet.
Lá, foram impedidos de chegar à ilha devido a uma grande barreira de gelo e tiveram que sair em busca de outra terra firme. Os homens já estavam no mar a mais de 400 dias, até que chegaram na Ilha Elefante no dia 497.
A partir de então, o grupo começou a realizar uma série de explorações e voltou — com a ajuda de barcos salva-vidas — às águas britânicas com a mesma quantidade de homens que havia recrutado: em meio a tantas dificuldades, nenhuma vida foi perdida. Mais tarde, o fato fez com que Shackleton ficasse conhecido como herói.
A última exploração
Após voltar à Irlanda, o explorador concedeu diversas palestras sobre sua trajetória. Sua nova rotina, todavia, não saciava o seu lado aventureiro. Foi então que Henry decidiu ir novamente à Antártida em 1921 na Expedição Shackleton–Rowett, a fim de dar vida a um programa científico de expedição oceanográfica e sub-antárctica.
Animado com a navegação, Henry deixou de lado problemas relacionados à saúde. Em meio a trajetória, porém, se queixou diversas vezes de dores nas costas e foi atendido pelo médico da expedição, Alexander Macklin.
O explorador morreu no mesmo dia devido a um “ateroma das artérias coronárias”, como Macklin relatou. Segundo o especialista, seu estado de saúde foi agravado por conta do esforço feito durante um período de maior debilidade.
Devido ao falecimento, a tripulação decidiu que voltaria à Inglaterra. Porém, receberam uma mensagem no meio do caminho da mulher de Shackleton, Emily, dizendo que gostaria que o corpo de seu marido fosse enterrado na Geórgia do Sul, onde o navio estava ancorado no momento da morte de seu marido.
Seguindo seu conselho, Hussey, o capitão do navio, decidiu regressar ao local. Em março de 1922, Ernest foi enterrado no cemitério de Grytviken. “Penso que era esta a forma que “o Chefe” gostaria de ser enterrado, sozinho numa ilha longe da civilização, rodeado de mares tempestuosos, e na vizinhança do local de uma das suas grandes explorações”, escreveu Macklin em seu diário.
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