Sophia Jesus Ocampos tinha 2 anos quando foi levada a uma UPA, 7 horas depois de já ter morrido, em Campo Grande (MS)
O óbito de uma menina de 2 anos chocou a população da cidade de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, nos últimos dias. Isso porque Sophia Jesus Ocampo foi levada a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) pela mãe, Stephanie de Jesus Da Silva, já depois de 7 horas de sua morte. O caso é alvo de investigação da Polícia Civil.
Tudo começou em 26 de janeiro, quando a mãe de Sophia a levou para a UPA do bairro Coronel Antonino, onde não só já chegou morta, como foi constatado pelo médico legista que o óbito ocorrera aproximadamente sete horas antes. As informações são do G1.
A necrópsia do corpo, além disso, apontou que ela morreu por um traumatismo na coluna cervical, que teria evoluído para um acúmulo de sangue entre o pulmão e a parede torácica. Sophia ainda apresentava marcas de estupro.
Em depoimento, Stephanie confessou que já sabia que a filha estava morta quando a levou à UPA. Segundo a delegada responsável pelo caso, Anne Karine Trevisan, "o médico legista constatou que Sophia foi morta entre 9h e 10h do dia 26 de janeiro, sendo que ela foi encaminhada para a UPA somente às 17h. No período da tarde, ela já estava morta, e a mãe e o padrasto estavam em casa."
Depois que o caso foi descoberto, Stephanie de Jesus Da Silva e Christian Campoçano Leitheim, mãe e padrasto da menina, foram presos preventivamente. Como informado pelo G1, eles estão sendo julgados pelos crimes de homicídio qualificado e estupro de vulnerável.
Com as investigações e a quebra de sigilo telefônico do casal, foi confirmado que os dois tinham consciência das implicações que a morte de Sophia traria, e conversavam sobre a história que contariam à polícia. Dentre as sugestões de Christian, inclusive, que falava para Stephanieinventar qualquer coisa, estava a de dizer "que ela caiu no parquinho".
Durante o depoimento, a mãe disse que a Sophia tinha passado mal, estava com a barriga inchada por ter comido muita maionese. O padrasto ficou em silêncio e não quis se manifestar", contou Trevisan ao g1.
O prontuário médico da pequena Sophia ainda revelou outra informação sobre a menina: em não muito tempo, ela passou por 30 atendimentos médicos em diferentes unidades de saúde da capital sul-matogrossense. Entre os registros, havia inclusive um relacionado a uma fratura que a menina teria sofrido na tíbia.
Dessa forma, agora também há uma investigação da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) para descobrir se houveram quaisquer tipos de falhas nos atendimentos à Sophia.
Além disso, a casa em que a menina vivia com a mãe e o padrasto foi identificada pelo g1 em condições insalubres e cheia de lixo, com indícios de abandono e fezes de animais espalhadas pela varanda. Sem contar que também haviam ali bitucas e caixas de cigarro, bem como garrafas de bebidas alcoólicas.
O pai de Sophia, Jean Carlos Ocampo, por sua vez, acusa Stephanie de ter cometido homofobia contra ele em tentativas de obter a guarda da filha. Segundo ele, a tentativa era sempre impedida pela mãe de Sophia, pois "ela dizia que não deixaria a filha com dois homens. [...] A questão da homofobia existiu. A gente vê mães reclamando que o pai não é presente, e nesse caso tinha um pai tentando se fazer presente e ignoravam."
Teve esse preconceito por ser dois pais, porque quando você quer ajudar, as coisas acontecem, ainda mais no estado em que a minha filha chegava em casa. Eu mostrava fotos dos hematomas, mostrava a neném, e nada era feito", acrescentou Jean ao relato.
Já Igor de Andrade, companheiro de Jean, também contou sobre as tentativas de se obter a guarda da criança, impedidas pela mãe: "Passamos por vários lugares para entrar com pedido de guarda da neném. O fato de eu não ser um pai biológico não muda nada, eu tive uma missão muito mais importante, que é amar uma pessoa que não é do meu sangue. Eu amei como se fosse a minha filha."
Janice Andrade, advogada do pai de Sophia, falou depois de uma semana da morte sobre a indignação que ela e Jean sentiam com as autoridades, que já vinham recebido pedidos de socorro, o que poderia impedir a morte da menina. Ela afirma acreditar em uma "omissão sistêmica" e no descumprimento de funções sociais de alguns profissionais.
isso aconteceu desde o primeiro atendimento nos postos de saúde, na delegacia quando o pai foi registrar os boletins de ocorrência por maus-tratos e junto ao Conselho Tutelar, que também não cumpriu sua função social", disse.
Por fim, ainda aponta como "não é normal" que nenhuma providência tenha sido tomada mesmo com a chegada de uma criança com uma perna quebrada e diversos hematomas. No momento, o caso segue sendo investigado, e a mãe e o padrasto da pequena Sophia seguem presos.