A prática, identificada como "swatting" pela Justiça dos EUA, resultou na morte de um inocente do outro lado do país
Durante a segunda metade da década de 2010, diversas plataformas especializadas em transmissões ao vivo de jogatinas foram amplificadas com a popularização de jogos multiplayers e apresentadores carismáticos, principalmente pelas plataformas Twitch e YouTube Gaming, criando a onda do streaming de games.
Contudo, com sua ascensão midiática e comercial, diversas maneiras de pestanejar seus produtores de conteúdo surgiram; desde as populares pegadinhas com nomes bizarros até os limites da brincadeira, como classifica a Justiça dos Estados Unidos com um termo relativamente recente nos registros penais norte-americanos, mas igualmente maliciosos.
O chamado "swatting" origina da sigla SWAT, que representa o esquadrão de elite das polícias locais no país. A pegadinha em si trata-se de rastrear um outro jogador ou alguém que esteja com uma transmissão em aberto, obtendo seu endereço.
Com isso, uma pessoa se encarrega de passar um trote para a polícia alegando uma situação de alto risco no endereço do jogador, como assassinatos ou sequestros, mobilizando policiais fortemente armados a invadirem, ao vivo, o quarto da pessoa que realiza a transmissão.
Em uma 'brincadeira' como essa ocorreu um dos principais casos de 'swatting' da história criminal dos EUA, resultando na morte de um homem em dezembro de 2017. Contudo, a intriga começou fora da esfera real, mobilizada por uma briga de jogadores durante uma partida do shooter "Call of Duty".
No jogo, o personagem controlado por um jovem, identificado como Casey Viner, acabou sendo morto por outro jogador, controlado por Shane Gaskill, e teve um acesso de raiva contra o jogador, como noticiou a ABC News em 2021.
O jovem preferiu iniciar uma discussão através de mensagens privadas, disponibilizadas pela plataforma do console onde jogavam. Shane, por sua vez, poupou sua paciência e o convidou para resolver as diferenças pessoalmente, enviando seu endereço real e escrevendo: "Por favor, tente fazer alguma besteira".
Casey não manifestou interesse no confronto, mas decidiu aplicar uma peça no rival de game e convocou uma ação de "swatting" junto a um amigo chamado Tyler Barriss. Barriss ligou para o serviço de emergência se passando pelo rival de seu amigo, afirmou que havia matado o próprio pai e mantinha a mãe refém, além de espalhar gasolina pela casa.
A notícia rapidamente mobilizou a polícia da cidade de Andrew, em Sedgwick, no Kansas, muitos quilômetros de distância de Los Angeles, onde Casey estava.
Ao ter a casa cercada, um jovem chamado AndrewFinch, de 28 anos, saiu confuso e, ao ser solicitado para levantar as mãos, acabou abaixando os braços e sendo alvejado por tiros, que levaram a sua morte. Ele nada tinha a ver com a mentira criada pelos rapazes.
Ao entrarem na casa, não havia nenhuma situação de reféns ou mortos, confirmando o "swatting". Dessa forma, a polícia conseguiu rastrear a origem do telefonema, chegando aos rapazes que participaram do trote. Shane Gaskill havia passado para os outros jogadores o seu endereço antigo.
O autor da chamada e Casey tentaram apagar os registros das conversas dos jogadores, e foram presos e julgados pelo trote, ameaça falsa e obstrução de justiça. Acusação que também fora encarada por Shane.
A pena maior ficou para o autor da chamada: Tyler Barriss recebeu 51 acusações, como informou a BBC News, sendo condenado a 20 anos de prisão, ele também encarou acusações por ameaças de bomba nos EUA e Canadá. Casey teve apenas 2 anos de reclusão, além de uma multa pelo caso.