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Matérias / Personagem

A genialidade do rei do reggae: Há 41 anos, morria Bob Marley

O músico jamaicano foi responsável por popularizar e revolucionar o gênero musical reggae

Sérgio Gwercman, arquivo Aventuras na História Publicado em 11/05/2019, às 18h00 - Atualizado às 12h10

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Imagem meramente ilustrativa - Pixabay
Imagem meramente ilustrativa - Pixabay

Mesmo após 41 anos da morte de Bob Marley, o músico jamaicano contínua conquistando a admiração das pessoas ao redor do mundo. Dono de longos cabelos e dreadlocks, o artista possuía uma voz sem igual e denunciava em suas letras, desigualdades entre ricos e pobres. Sem dúvidas, o seu talento e legado o transformaram em um dos maiores nomes da música

Ao longo dos anos, suas belas canções tornaram-se indispensáveis para os jovens que viajam para a praia em busca de paz e tranquilidade. Já sua imagem se popularizou na mídia. Portanto, é comum ver o seu rosto estampado em cartazes de protestos e camisetas.

Manifestações pela legalização da maconha. Protestos em defesa da emancipação do Terceiro Mundo. Campanhas para promover o turismo na Jamaica. Passeatas antirracismo. Em qualquer dessas situações, é só procurar: em algum lugar você encontrará uma imagem de Bob Marley.

Antes, o governo jamaicano fazia de tudo para esconder dos turistas os rastafáris. Contudo, hoje em dia, os cabelos compridos estampam selos, lembrando que o país é a terra natal do cantor.

A trajetória do Rei do Reggae

Robert Nesta Marley nasceu em 1945, em Nine Mile, um vilarejo rural onde sua família era dona de algumas terras. Cresceu sem conviver com o pai, Norval Marley, um branco
que trabalhava para o governo e engravidou Cedella Nesta quando ela tinha apenas 17 anos. Norval casou-se com a menina apenas para abandoná-la um dia após a cerimônia
— antes mesmo que o filho do casal nascesse.

Bob Marley no palco em Estocolmo, Suécia / Crédito: Getty Images

Quando Bob tinha 7 anos, Cedella pegou o menino e o levou para viver numa comunidade de casebres minúsculos na capital, Kingston. Lá, o menino cresceu nas ruas, jogando bola e, fazendo música numa guitarra improvisada com uma enorme lata de sardinha, uma vara de bambu e fios de cobre — da mesma forma como ainda vivem
jovens como ele na Jamaica. 

Se dependesse da mãe, Bob seria um promissor soldador, operário da indústria de autopeças jamaicana. Entretanto, o adolescente estava mais interessado em tocar ska, o ritmo que fazia ferver a ilha (e as mocinhas) do Caribe.

Em 1962, veio a primeira gravação em estúdio e pouco depois ele estava compondo e tocando com Bunny Livingston, um amigo de infância, e Peter Tosh. Juntos, eles formaram o grupo The Wailers, que até conseguiu algum sucesso com músicas como Judge Not — o que de forma alguma pode ser confundido com dinheiro.

E foi a grana — ou a busca por ela — que fez com que Bob deixasse para trás o sonho, a música e a mulher Rita Marley, com quem acabara de se casar, e partisse para os Estados Unidos. Lá Bob apertou porcas e parafusos na linha de montagem da automobilística
Chrysler, foi ajudante de laboratório da química DuPont, dirigiu empilhadeiras no turno da noite num armazém e carregou bandejas como garçom de um restaurante. Mudou
de empregos com a mesma rapidez com que descobriu a falta de vocação para a indústria — trabalho braçal para ele era tocar violão.

O movimento rastafári

A aventura durou a maior parte do ano de 1966. E, enquanto ele tentava vencer na América, algo incrível acontecia em sua terra. A Jamaica recebia a visita de Hailé Selassié, que levou 100 mil pessoas às ruas da capital. Para os rastafáris, Selassié, rei da Etiópia, era Jah, ou seja, Deus.

Sua presença foi o clímax de um movimento surgido no início do século 20 e popularizado por Marcus Garvey, um pregador que costumava dizer: “Voltem- se para a África, lá será coroado o rei negro. Ele será o redentor”.

A coroação de Selassié como rei da Etiópia, em 1930, foi interpretada pelos seguidores de Garvey como a confirmação da profecia e assim surgiram os primeiros rastafáris, que não passavam de alguns fiéis isolados em pequenas comunidades de pescadores.

Bob Marley durante apresentação / Crédito: Divulgação / Youtube / Bob Marley

Quando Bob voltou, Rita estava convertida ao rastafarianismo e ele também abraçou a religião. Com os 700 dólares que trouxe dos Estados Unidos, abriu uma loja de discos e voltou a cantar com os amigos do The Wailers. A banda tocava em Kingston e chegou a se arriscar na Europa (principalmente em Londres, onde havia uma grande comunidade jamaicana). Em 1970, durante uma dessas viagens, a gravadora Island Records lhes ofereceu um contrato. Eles aceitaram na hora.

Fizeram um ótimo negócio. “Chris [Blackwell, dono da Island] deu a Marley dinheiro e liberdade musical como ele nunca havia tido”, afirmou o jornalista Ed Ward, autor História Ilustrada do Rock, publicada pela revista Rolling Stone. Os discos lançados pela Island transformaram Bob numa estrela mundial. A maioria dos hits que o artista emplacou vem dessa época. Em 1974, Tosh e Bunny deixaram a banda.

O sucesso deu-lhe fama e fortuna, mas suas opiniões políticas não arrefeceram. Juntando influências, o músico foi construindo uma visão de mundo radical e própria. Escutava a esquerda, os movimentos negros americanos e os rastas mais velhos.

Às vezes, suas opiniões soam maniqueístas, especialmente ao falar das relações entre a elite de seu país (a minoria branca) e os miseráveis (a maioria negra). “Os ricos são assaltantes, ladrões puros. Os inteligentes e inocentes são pores e são esmagados e brutalizados”, dizia o cantor.

A Island House

A Island House, como a casa ficou conhecida, foi a meca do reggae durante quase uma década. Não bastasse servir de moradia para o maior nome do gênero, ainda reunia uma legião de amigos e músicos que gravitavam ao redor de Bob. Bunny “Wailer” vivia lá. Peter Tosh aparecia às vezes. Quando estava na Jamaica, Blackwell acampava na casa
da Rua Hope.

“Era uma comuna hippie não-dogmática, com abundância de comida, erva, crianças, música e sexo informal”, escreveu Timothy White em Queimando Tudo, a mais completa biografia do cantor.

Bob era capaz de conciliar a vida rastafári numa mansão tão bem quanto encarava a presença de suas amantes sob o mesmo teto que Rita Marley. O que ele queria mesmo era estar perto de Jah — cantar, fumar maconha e se aproximar da natureza. O músico tornarasse um fervoroso rastafári.

A morte

No auge do sucesso surgiu a notícia de que ele tinha câncer. Pior: o tratamento recomendado ia de encontro aos preceitos do rastafarianismo e o cantor entregaria o caso para Jah.

Houve pouca comoção, porque quase ninguém ficou sabendo do verdadeiro motivo da frágil saúde do jamaicano. Quando a gravidade da doença chegou aos ouvidos da imprensa, a vida de Bob já tinha data marcada para terminar.

No dia 11 de maio de 1981, aos 36 anos ele virou mito. Saiu da vida para enfeitar camisetas, cartazes em passeatas e campanhas de turismo. Isso, não é para qualquer um.


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