Ansiedade, crises existenciais e dependência emocional são principais assuntos retratados no longa
A Barbie tem sido uma figura de inspiração e entretenimento para crianças ao redor do mundo há décadas, carregando um símbolo de autonomia, beleza e moda. O filme inspirado na boneca finalmente chegou aos cinemas no dia 20 de julho, mas já era um fenômeno muito antes de seu lançamento. Com Margot Robbie no papel principal, interpretando a "Barbie Estereotipada", e Ryan Gosling como "Ken", o filme traz uma nova perspectiva.
A história gira em torno da Barbie, que começa a questionar sua vida perfeita na Barbieland e acaba enfrentando crises existenciais. Buscando respostas, ela decide explorar o mundo real, onde se depara com um local diferente daquela que estava acostumada. A Barbie, que sempre foi vista como um símbolo de beleza e perfeição, passa por uma jornada de autodescoberta, questionando padrões e buscando sua própria identidade. De acordo com a Psicóloga Clínica Tatiane Paula, o contraste entre a cidade cor-de-rosa perfeita e a realidade traz à tona questões importantes, como ansiedade, depressão e dependência emocional.
Confira a seguir alguns transtornos psicológicos retratados no filme, explicados pela psicóloga. ALERTA: Os próximos parágrafos apresentam spoilers do filme.
No filme, a protagonista enfrenta um momento difícil em que sua personagem é retratada como a versão depressiva da boneca. Nessa representação, são evidenciados sentimentos de tristeza, pessimismo e baixa autoestima, características comumente associadas ao transtorno. Essa abordagem destaca a importância de falarmos sobre temas como saúde mental e oferece uma perspectiva única sobre a jornada emocional da personagem principal.
Na vida real, a protagonista experimenta sentimentos humanos à medida que lida com novas informações e comportamentos. Agora, ela precisa lidar com a finitude e as necessidades biológicas que antes não eram percebidas quando era apenas uma boneca. A ansiedade também é vista em personagens que enfrentam situações desafiadoras e são utilizados para trazer questionamentos sobre suas próprias habilidades ou capacidades, gerando inseguranças, preocupações excessivas e dificuldades de gerenciar pensamentos intrusivos.
Outro ponto destacado no filme são as crises existenciais, que podem surgir quando as personagens se deparam com dúvidas sobre seu propósito, identidade e lugar no mundo. Por exemplo, a Barbie passa por situações em que precisa tomar decisões importantes sobre seu futuro ou encarar obstáculos que a levem a questionar suas próprias habilidades e valores, além de não se considerar boa o suficiente em sua versão humana, se achando perfeita somente como boneca.
A baixa autoestima é abordada de forma simplificada e pode ser potencializada pelo medo do fracasso, receio de serem julgados ou rejeitados. Essa representação busca mostrar como isso pode levar os personagens a perpetuar o mecanismo de defesa de uma busca constante por perfeição, gerando no público a possibilidade de identificar-se.
A dependência emocional é representada nos personagens que buscam constantemente a validação e aceitação de outros, colocando sua própria felicidade nas mãos de terceiros. Isso é visto principalmente no Ken, que passa por uma descaracterização de personalidade que é vista em um momento que o personagem cantarola dizendo ser “sempre o número dois”, revelando sua insegurança. É somente quando a Barbie o encoraja a olhar para si mesmo que ele percebe a importância do autoconhecimento.
O filme da Barbie aborda saúde mental de forma inspiradora, estimulando a resiliência e a autoconfiança do público-alvo. “Além disso, proporciona uma experiência imersiva que resgata a criança interior dos espectadores que se vestem com os elementos da boneca, como a cor rosa. O longa também desafia as normas sociais ao abordar o tema do patriarcado e valoriza a responsabilidade afetiva nas relações interpessoais. Essas abordagens contribuem para enriquecer a jornada do público-alvo, incentivando a reflexão e o crescimento pessoal”, relata Tatiane.
No que diz respeito ao tratamento psicológico, o filme traz lições valiosas. A psicóloga explica que os personagens mostram a importância de buscar ajuda e orientação para enfrentar desafios e que isso não é um sinal de fraqueza, mas sim de força e autocompaixão. É fundamental lembrar que o filme trata-se de uma obra de ficção e o tratamento psicológico é um processo sério e individualizado, conduzido por profissionais devidamente treinados.