A princípio ridicularizada e incompreendida, a peça se tornou uma espécie de marco cultural e um símbolo da persona extravagante da cantora islandesa
"Provavelmente uma das coisas mais estúpidas que já vi", disse Steven Cojocaru, especialista em moda. Para a comediante Joan Rivers, "a garota deveria ser internada em um hospício".
Quando Björk apareceu no tapete vermelho na 73º edição do Oscar, em 25 de março de 2001, foi esse tipo de reação que a cantora islandesa atraiu ao vestir o que se tornaria uma das peças mais icônicas já usadas na cerimônia.
Com um vestido que literalmente lembrava um cisne, a artista estava com uma meia de corpo incrustada de cristais, uma saia de tule branca e, no pescoço, era envolvida por uma figura de cisne com o bico descansando em seu peito.
Além do design chocante do estilista macedônio Marjan Pejoski — que não sabia que ela iria usar a peça no Oscar — Björk também carregava uma bolsa em formato de ovo e “colocava” seis deles, de tamanho de ovos de avestruz gigantes, enquanto andava no tapete vermelho.
Na manhã seguinte ao evento, após a chuva de críticas, em que a cantora foi ridicularizada e a peça imediatamente colocada em listas de “piores vestidos”, Pejoski veio à público em entrevista à revista Vogue, não parecendo incomodado.
"Nem todo mundo entende meu estilo", declarou à publicação em 2001. "Mas não me importo com publicidade ruim. Se você é um artista, não espera que todos amem o que você. E de qualquer forma, eu amo que tenha havido tal problema."
Em um ano do Oscar em que reinava o conservadorismo entre os looks dos artistas, Björk ousou e foi condenada por isso. Enquanto muitas preferiam não arriscar e usar o preto de sempre, ninguém esperava que a islandesa fosse fazer o mesmo. Ainda assim, ela surpreendeu.
Embora o vestido cisne tenha ganhado o destaque daquela edição do Oscar, ficou sob as cortinas que Björk foi praticamente esnobada, não recebendo indicação para Melhor Atriz naquele ano, tendo apenas sua música “I've Seen It All” de "Dançando no escuro" (2000), indicada.
Atuando na produção, ela havia recebido o prêmio de Melhor Atriz em Cannes e no European Film Awards, além de ter sido indicada ao prêmio no Globo de Ouro pelo papel, como relatou a W Magazine.
No Globo de Ouro, inclusive, que havia acontecido apenas algumas semanas antes do Oscar, a cantora havia usado uma roupa que já evidenciava sua persona excepcional para a moda — e tudo mais. Seu vestido contava com o rosto de Michael Jackson estampado em lantejoulas e ela carregava uma bolsa em forma de coruja.
Ainda assim, o vestido “a la cisne” se tornou uma grande piada na moda e também na cultura popular. Ele foi lembrado em paródias e discursos de comediantes, inclusive quando Ellen DeGeneres apresentou o Emmy de 2001 usando uma cópia do design, entre tantas outras recordações desprestigiadas.
No entanto, — talvez como tudo o que foi incompreendido pelo seu tempo — com o passar dos anos, a peça começou a ser entendida como uma das mais lendárias de todo o tapete vermelho. Todos lembram do vestido de Björk e de mais nada que foi usado na cerimônia daquele ano. Ela marcou o evento e época.
Em 2014, Valentino prestou homenagem ao vestido em sua apresentação de alta costura ao trazer sua versão reimaginada, momento em que o design começou a ganhar reconhecimento.
No ano seguinte, ele também foi exibido como parte do show da cantora no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa) e, em 2019, foi incluído na exposição The Met's Camp: Notes On Fashion do Metropolitan Museum of Art, em NY. Fora que o vestido ainda tem sua própria página na Wikipédia.
A verdade é que o vestido entrou para a história pelo impacto ao se tornar uma peça simplesmente icônica, usada por Björk de forma completamente natural. Ela havia gostado do design desenhado por Marjan Pejoski e quis usá-lo na cerimônia. Era algo que combinava com sua persona de visual extravagante.
“Eu não assisto muitos filmes de Hollywood, e sendo da Islândia, é bem acidental o que acontece lá”, explicou a cantora sobre o vestido.
“A maioria dos filmes de Hollywood que assisto são musicais de Busby Berkeley e — como se chama esse filme com toda a natação? Esther Williams, esse tipo de coisa, então pensei que seria muito apropriado usar um cisne. Acho que eles não fazem mais essas coisas, certo? Mas foi uma homenagem a Busby Berkeley e esse tipo de elegância."
Com certeza, o vestido de cisne não foi a primeira nem última peça estranha que Björk usou, famosa por ter usado designers de vanguarda excêntricos. No entanto, ele se tornou uma espécie de marco cultural e ajudou a artista a construir algo que todos se lembrariam ao escutar seu nome, acompanhado por uma música completamente única.