A evolução das calças femininas através da história passa pela identificação de Hollywood com a sua imagem transgressora
As calças, que atualmente são lugar-comum em nosso guarda-roupa, eram raramente usadas no Mundo Ocidental até o Período Bizantino, quando começaram a se tornar populares entre os homens. Antes disso, na Antiguidade, os povos de uma maneira geral usavam apenas túnicas e mantôs.
O Império Bizantino se formou na junção das fronteiras entre o Ocidente e o Oriente, na região do Estreito de Bósforo, que une a Europa e a Ásia, sendo então composto por territórios destes dois continentes. Uma grande extensão de terras que englobava parte dos países que hoje conhecemos como Turquia, Bulgária, Croácia, Sérvia, Grécia e Síria, entre outros.
A sua capital, originalmente chamada de Bizâncio e depois de Constantinopla, é atualmente Istambul, uma cidade cosmopolita desde a Idade Média, que servia como ponto de passagem e rota comercial para inúmeros tipos de produtos que vinham de vários povos, como os egípcios, os sírios e eslavos. Essa troca entre culturas acabou se disseminando também na moda da época.
É neste período que se populariza a roupa bifurcada, um traje que já era comum na Pérsia, China e outros países orientais. Usada para cavalgar e proteger do frio, era bastante prática ao facilitar os movimentos destes grupos dinâmicos e aventureiros, e vai se tornando uma vestimenta masculina comum na Europa.
Isso até que, durante a Revolução Francesa, que marca o início da Idade Contemporânea, as mulheres das classes trabalhadoras resolveram também vestir calças para assegurar mobilidade na luta pela igualdade de direitos humanos. Em um momento em que essa busca por equidade ainda era reprovada por parte da sociedade e seus líderes, elas se tornaram inconvenientes, o que provocou a proibição de mulheres usarem calças na França, por lei instaurada no ano de 1800.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, a jornalista, editora e ativista social Amélia Bloomer, defensora dos direitos femininos, já usava em 1851 um vestido curto combinando com calças soltinhas chamadas de calças turcas, que foram renomeadas mais tarde como “bloomers”.
Ela foi uma das líderes do movimento pela reforma do vestuário, que preconizava o uso de roupas racionais e mais confortáveis para as mulheres ao invés dos tradicionais espartilhos e anáguas.
O conceito diferenciado de seu traje, também usado pelas colegas sufragistas, escandalizou a sociedade estadunidense e provocou nas mulheres que arriscavam vestir a peça, ameaças públicas e a retração, o que impediu a disseminação da peça.
É apenas a partir de 1900 que as calças ganham mais espaço por conta da popularidade dos esportes ao ar livre e surgem roupas para andar de bicicleta e montar a cavalo.
A França então atualiza, no ano de 1909, uma lei que assegura para as mulheres o direito de vestir calças enquanto estivessem pedalando ou cavalgando.
No mesmo ano o estilista francês Paul Poiret lança a peça Harem, em estilo balonê com inspiração oriental, que fez sucesso entre as mulheres que seguiam à risca a moda da época, complementando com turbantes os seus looks.
O item de influência masculina vai ganhando cada vez mais atenção, até que nos anos 1930 as pantalonas se tornam símbolo de força e magnetismo nas grandes telas do cinema em Hollywood.
A elegância do corte de linhas retas corre o mundo e as mulheres enfim cedem totalmente ao apelo moderno das calças, tornando a peça bifurcada um item indispensável no guarda-roupa de todas nós.
Em tempo: apesar de ser ignorada há mais de um século, aquela lei na França que proibia as mulheres de usarem calças foi oficialmente suspensa no ano de 2013!
Saiba mais sobre a trajetória da calça feminina e o papel da indústria cinematográfica em sua difusão durante a década de 1930, no podcast a seguir: