Localizada no Mato Grosso, a vala comum guarda os restos mortais de indígenas que sofreram violações de direitos durante a ditadura
Através de escavações arqueológicas, uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), da Academia de Ciências da Polônia e da Universidade de Winnipeg, no Canadá, comprovou a existência de uma vala comum na Terra Indígena de São Marcos, no estado do Mato Grosso (MT).
A vala data da época da ditadura militar e guarda os restos mortais de indígenas que sofreram violações de direitos durante o período.
No ano de 1966, a população xavante de Marãiwatsédé foi submetida a uma remoção forçada de suas terras tradicionais, sendo deslocada para a região de São Marcos, situada a cerca de 500 quilômetros de distância, onde coexistiam outros grupos xavante. Essa transferência foi realizada por aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB), em um contexto marcado por uma epidemia de sarampo.
Como resultado, dezenas de indivíduos indígenas foram acometidos pela doença e perderam suas vidas em um curto espaço de tempo. Esses falecidos foram sepultados conjuntamente em uma vala comum situada dentro da terra indígena, conforme informou a revista IstoÉ.
A arqueóloga forense Claudia Plens , quem lidera a pesquisa, destaca que os relatos dessa ocorrência já eram de conhecimento público, mas ainda eram necessárias evidências materiais para que as comunidades indígenas pudessem lutar por reparação.
Embora existam relatos diversos sobre o processo histórico que culminou na vala comum, a materialidade da vala só foi confirmada agora”, disse a professora do departamento de história da Unifesp.
“Por meio das entrevistas e, posteriormente, pelo georadar [método de investigação subterrânea], conseguimos localizar a vala comum. Não houve preservação dos esqueletos. Mas, do ponto de vista da arqueologia forense, os dados do georadar, associados às feições no sedimento, são suficientes para identificar a vala comum”, declarou a pesquisadora.