Entenda como acústica do monumento neolítico pode ajudar na compreensão sobre o misterioso Stonehenge
Construído há cerca de 5 mil anos, o monumento neolítico de Stonehenge é um dos mais misteriosos existentes no mundo. Afinal, arqueólogos não sabem quem o construiu e tampouco qual seu propósito.
Sabe-se, porém, que os seus espaços no anel externo de pedras estão perfeitamente alinhados com o solstício de inverno e de verão, o que pode fazê-lo um calendário gigante que ajudava na colheita. Há teorias que apontam que Stonehenge foi usado como cemitério, local de cura ou até mesmo um centro de rituais sagrados.
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Essa última hipótese ganhou mais força graças aos estudos recentes de Trevor Cox, da Universidade de Salford em Manchester, no Reino Unido, que passou a analisar a acústica de Stonehenge.
O interior do monumento neolítico possui uma propriedade interessante: servindo como uma câmara de eco gigante, a parte de dentro da construção é capaz de amplificar os sons gerados lá dentro.
"Percebi que havia uma técnica na acústica que nunca havia sido aplicada antes aos locais pré-históricos, que era a modelagem em escala acústica", diz Cox à BBC. "Sou o primeiro a fazer um modelo em escala de Stonehenge ou de qualquer outro local de pedra da pré-história."
Para fazer seus testes, ele criou uma réplica em escala 1:12 de Stonehenge para testá-la em uma sala quase à prova de som na universidade. A 'maquete' é baseada em como a construção era há cerca de 4 mil anos; ou seja, em sua configuração completa.
"Se você visitar Stonehenge hoje em dia, é um local magnífico, mas muitas das pedras estão faltando ou caíram no solo", conta. "Esta [configuração] é uma disposição específica. Na verdade, desde cerca de 2 mil a.C. até agora, ele mudou muito por cerca de um milênio."
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— Trevor Cox (@trevor_cox) December 17, 2021
Quando a testagem do som foi feita, também com frequência multiplicada por 12, para seguir o padrão da réplica, descobriu-se que embora Stonehenge não tenha um piso, o som acaba ricocheteando nas pedras — um fenômeno acústico conhecido como reverberação.
Sabemos que a música é aprimorada pela reverberação e, por isso, imaginamos que, se fosse executada música, ela simplesmente soaria um pouco mais poderosa e impactante dentro do círculo", explica o pesquisador.
Em um cenário mais explicativo: em um ambiente natural como onde o monumento foi erguido, num morro coberto por gramas, uma pessoa ao conversar de costas para outra só seria compreendida em um 30% de seu discurso. Mas dentro da construção, a ampliação de decibéis aumenta esse índice para 100%.
Ou seja, quem estava dentro do círculo poderia se ouvir muito bem, enquanto quem estava do lado de fora era excluída de qualquer assunto interno. Uma espécie de fone de ouvido gigante.
Assim, Cox acredita que Stonehenge possa ter sido usado pela elite para a prática de rituais reservados. Um estudo que corrobora com isso aponta que o monumento neolítico possa ter tido sebe cultivada para obstruir a visão de quem estava de fora. "A pesquisa definitivamente fornece mais informações sobre como Stonehenge pode ter sido utilizado", aponta Trevor.
Mesmo se você virar de costas, sempre existem reflexões nas pedras para reforçar a sua voz, de forma que, na verdade, não importa se você não puder ver a pessoa falando. Seria muito bom para a comunicação por fala."
O pesquisador aponta que atualmente estamos acostumados à acústica de grandes paredes, portanto, a diferença pode parecer imperceptível, mas as pessoas do Neolítico Superior teriam achado esse efeito hipnotizante.
As descobertas iniciais de Trevor Cox foram publicadas em 2020 no Journal of Archaeological Science, mas agora ele e outros profissionais analisam como uma grande quantidade de pessoas dentro do círculo poderia mudar essa acústica e como os ouvintes escutavam os sons a partir de diferentes ângulos.
"Uma das coisas sobre este trabalho é que você percebe como ele é poderoso para as pessoas, como as pessoas realmente se conectam com ele e como elas são fascinadas por tudo o que tem a ver com Stonehenge", continua Cox.
"Acho que isso cria uma mística pela notável capacidade dos nossos ancestrais de criar os monumentos mais surpreendentes", completa. Um novo estudo sobre a acústica de Stonehenge deve ser publicado ainda este ano.