De acordo com ele, a não investigação da ditadura militar se reflete na violência atual
Luisa Alves, sob supervisão de Giovanna Gomes Publicado em 27/02/2023, às 15h16 - Atualizado às 16h52
O promotor adjunto da condenação dos líderes da ditadura militar argentina, em 1985, afirmou, em entrevista ao G1, que países como o Brasil e a Espanha sofrem com os reflexos da ditadura até os dias de hoje por não terem punido militares.
Luis Moreno Ocampo hoje é professor e dá aulas sobre filmes de tribunal. O caso tornou-se longa, o 'Argentina, 1985', que foi vencedor do Globo de Ouro e indicado ao Oscar. De acordo com ele, um filme com uma história bem contada pode consolidar e renovar uma vitória no julgamento real.
Ocampo é professor no curso de Cinema da Universidade do Sul da Califórnia, dos Estados Unidos e, além disso, durante nove anos, ele foi promotor chefe da Corte Criminal Internacional.
De acordo com Luis Moreno Ocampo, ao G1, o Brasil, assim como a Espanha, não investigou o passado. Ele explica que a teoria dos especialistas em ciências políticas em 1985 era a de que não se deveria incomodar o regime anterior.
No Brasil vocês também não investigaram o passado. Há um estudo de Harvard mostrando que a falta de investigação no Brasil fez o país seguir com práticas de tortura e mortes na polícia até hoje. Há muitos assassinatos extrajudiciais no Brasil. Então existe um impacto", disse.
"Quando vejo essa ideia do mundo em desordem, sei que pessoas no Brasil (como minha mãe foi no tempo dela) talvez queiram ordem. Então é fácil ganhar votos dizendo: "eu quero ordem, vou matar os inimigos". Isso é um desastre, mas é popular".
Ele ainda explica que a lealdade entre os militares é um impedimento para que eles consigam investigar a si mesmos. Além disso, de acordo com ele, para investigar os ataques atuais às democracias, deve-se seguir o dinheiro e as comunicações e estar atento aos líderes civis que usam o poder militar: "Quem estava financiando o 8 de Janeiro? Quem estava apoiando politicamente o movimento?".
Ocampo também comentou sobre os ataques a democracia em 2021, nos Estados Unidos, e em 2023, no Brasil, e as reações do judiciário em cada um desses países. Ele enfatiza que a democracia é "um terreno comum" e que, segundo ele, isso está mais claro no Brasil.
"Não estou acompanhando de perto o que o judiciário brasileiro está fazendo. Acho que é importante e deve ser investigado. Mas, para mim, o verdadeiro problema não é apenas quem estava envolvido, mas como os líderes políticos vão reagir", explicou.
"A democracia é um campo comum, e sinto que isso está acontecendo no Brasil: líderes que são contra Lula também contra esses ataques. Nos EUA não está tão claro. No senado norte-americano ainda há pessoas apoiando e justificando o 6 de janeiro. E isso é um grande problema. Não importam as diferenças entre os partidos políticos, a democracia é um terreno comum. Eu vejo mais clareza no Brasil sobre isso, e acho que isso é importante".