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Notícias / Arqueologia

Ossos de 1,2 mil anos contam história de importante embaixador maia

Encontrados no México, os restos mortais de Waal de Ajpach trouxeram informações inéditas sobre a vida do antigo diplomata

Pamela Malva Publicado em 18/03/2021, às 10h30

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Inscritos em um dos vasos encontrados na tumba - Divulgação/Kenichiro Tsukamoto
Inscritos em um dos vasos encontrados na tumba - Divulgação/Kenichiro Tsukamoto

Durante explorações no sítio arqueológico de El Palmar, no México, pesquisadores da Universidade da Califórnia descobriram o túmulo de Waal de Ajpach, um antigo diplomata maia. Liderado pelo professor Kenichiro Tsukamoto, então, o estudo do novo achado revelou informações inéditas sobre o membro da elite, segundo a Galileu.

De acordo com a publicação no periódico Latin American Antiquity, a pesquisa foi feita através dos ossos de Waal de Ajpach, dos artefatos enterrados junto do homem em sua tumba e de uma escadaria ornamentada com importantes hieróglifos.

“Usando dados osteológicos, arqueológicos e epigráficos como diferentes linhas de evidência”, então, os pesquisadores conseguiram traçar algumas narrativas para a vida de Waal de Ajpach. Dessa forma, estima-se que ele viveu na elite não real da sociedade maia em meados do período clássico tardio, entre 600 e 850 d.C..

Fotografia de um dos vasos encontrados na tumba / Crédito: Divulgação/Kenichiro Tsukamoto

Ainda mais, os cientistas acreditam que o homem teria entre 35 e 50 anos quando morreu, sendo enterrado no ano de 726 d.C.. “Sua vida, no entanto, não foi como esperávamos, com base nos hieróglifos”, explicou Tsukamoto, em comunicado.

Acontece que, segundo as análises, Waal de Ajpach não desfrutava das regalias da elite, já que trabalhava como um embaixador, viajando em missões diplomáticas. Por mais que tenha sido enterrado sob um templo, portanto, ele não recebeu oferendas em seu sepultamento e apenas dois vasos foram encontrados em sua tumba.

Segundo os pesquisadores, o único indício de alguma ‘ostentação’ na vida de Waal de Ajpach foi encontrado em seus dentes, que foram perfurados e incrustados com com pedras de pirita e jade — tal procedimento era usado para marcar a entrada de um jovem maia na elite da época, como aconteceu com o embaixador.

Fotografia dos dentes de Waal de Ajpach / Crédito: Divulgação/Kenichiro Tsukamoto

As marcas das viagens

A partir dos hieróglifos, os pesquisadores conseguiram identificar registros de uma das viagens de Waal de Ajpach. Segundo as inscrições, em 726 d.C., o homem partiu de El Palmar e viajou cerca de 500 quilômetros até Honduras, para encontrar o rei de Copán.

O objetivo da viagem era determinar uma aliança entre as dinastias de Calakmul e Copán. Mas essa e outras longas trajetórias tiveram seu preço, cujo valor foi cobrado nos ossos de Waal de Ajpach, que apresentaram diversas lesões.

Em seus braços, por exemplo, os cientistas encontraram resquícios de uma inflamação conhecida como periostite — que pode ter sido gerada por um trauma, raquitismo, infecções bacterianas ou escorbuto. Da mesma forma, seu crânio continha áreas porosas e esponjosas, provavelmente causadas por deficiências nutricionais ou outras doenças.

Já nas mãos, pés, cotovelos, joelhos e tornozelos do mensageiro, foram identificados sinais de artrite, que pode ter sido causada pelas longas viagens feitas à pé, muitas vezes em terrenos desnivelados. Isso sem contar o movimento frequente de agachamento, para que ele pudesse ficar de joelho na frente dos monarcas com quem se encontrava.