Saiba como equipe de cientistas encontrou 'capítulo oculto' no livro sagrado do cristianismo e o que diz o trecho em questão
Um grupo de pesquisadores descobriu, em 2023, um “capítulo oculto” da Bíblia com cerca de 1.500 anos. A passagem, segundo os estudiosos, é uma interpretação do capítulo 12 do Evangelho de Mateus e foi encontrada sob duas camadas de pergaminho reescrito. O estudo foi publicado no periódico New Testament Studies.
O manuscrito foi originalmente registrado em um pergaminho, que, por volta de 1.300 anos atrás, teve seu conteúdo apagado por um escriba — uma prática comum à época devido à escassez desse material. Era comum que os textos fossem raspados e o suporte reutilizado. Ainda assim, vestígios da tinta permaneciam impressos no pergaminho, mesmo após o reaproveitamento.
Para revelar o texto oculto, os cientistas utilizaram tecnologia de imagem com luz ultravioleta. Essa técnica permite que as palavras antigas absorvam a luz e brilhem em azul, tornando possível a leitura mesmo após séculos de camadas sobrepostas.
“Ela pode revelar o texto oculto porque o pergaminho fica marcado pela tinta: não importa quantas vezes seja reutilizado, os escritos originais ainda estão impressos no papel. O texto do Evangelho está oculto no sentido de que a cópia em pergaminho do início do século VI do Livro dos Evangelhos foi reutilizada duas vezes e hoje, na mesma página, pode-se encontrar três camadas de escrita”, explicou Grigory Kessel, da Academia Austríaca de Ciências, responsável pela descoberta, em entrevista ao MailOnline.
De acordo com o portal UOL, a versão descoberta pertence às antigas traduções siríacas das escrituras, feitas há cerca de 1.500 anos. Até então, apenas dois manuscritos eram conhecidos por conter essa versão siríaca antiga dos Evangelhos: um mantido na Biblioteca Britânica, em Londres, e outro localizado no Mosteiro de Santa Catarina, no Monte Sinai, no Egito. O novo manuscrito foi encaminhado à Biblioteca do Vaticano.
O capítulo 12 do Evangelho de Mateus retrata diversos episódios da vida pública de Jesus. A narrativa tem início com Jesus caminhando por um campo em um sábado, quando seus discípulos, famintos, colhem espigas para comer — o que era proibido nesse dia. Jesus, então, questiona as críticas feitas a eles, argumentando que a necessidade, como a fome, pode se sobrepor à regra.
Ao longo do capítulo, Jesus também defende a prática de boas ações no sábado e afirma: “Mas, se vós soubésseis o que isto significa: Eu quero misericórdia, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes.” (Mateus 12:7)
Nos versículos seguintes, Mateus reconhece Jesus como o servo escolhido por Deus. O texto ainda menciona o confronto espiritual entre o reino de Deus e o de Satanás, destacando o poder de Jesus para expulsar demônios: “Mas, se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, então o reino de Deus é chegado a vós.” (Mateus 12:28)
Outro trecho importante é a referência ao “sinal do profeta Jonas”, considerada a primeira previsão explícita da morte de Jesus: “Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no coração da terra.” (Mateus 12:40)
O capítulo termina com uma reflexão sobre o vínculo espiritual entre Jesus e seus seguidores: “Porque, qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está no céu, este é meu irmão, e irmã e mãe.” (Mateus 12:50)