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Notícias / Boate Kiss

'Nunca mais fui a mesma pessoa', diz ex-segurança sobre tragédia da Boate Kiss

Ex-segurança, que ajudou a salvar vítimas, sofre até hoje com depressão e outras dificuldades

por Giovanna Gomes
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Publicado em 28/01/2023, às 08h13

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Fachada da boate Kiss - Divulgação / vídeo / Youtube
Fachada da boate Kiss - Divulgação / vídeo / Youtube

Dez anos se passaram desde que 242 pessoas morreram em um incêndio em uma casa de shows em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Mesmo uma década depois, o ex-segurança do estabelecimento, Rodrigo Moura, de 31 anos, conta que até hoje se encontra abalado em razão da tragédia.

Ele, que atualmente vive em Fortaleza, conseguiu ajudar outras pessoas a saírem de dentro da Boate Kiss na madrugada de 27 de janeiro de 2013.

"Aconteceram muitas coisas nesses dez anos, principalmente na minha vida que mudou drasticamente, depressão, dificuldades, nunca mais fui a mesma pessoa. Para mim parece que eu morri naquele dia porque a minha vida não é mais a mesma coisa", disse Moura ao portal de notícias g1.

Acusações

Rodrigo, que é natural de Santa Maria, disse que teve de deixar a cidade após o incêndio. Ele alega ter sofrido perseguições, uma vez que corriam pela região informações falsas de que ele, como segurança da boate, teria impedido a saída dos jovens.

"Na verdade, quem estava lá dentro sabe que o que impediu as pessoas de saírem foram as barras de ferro que tinham na porta. E como a casa noturna era grande, quando o fogo começou no palco, as pessoas que estavam na portaria não tinham como saber o que estava acontecendo. Então até a fumaça chegar lá na frente iria ter mais ainda dificuldade de sair da casa noturna", explicou Moura.

O rapaz conta que, após deixar Santa Maria, chegou a viver em Salvador e também em São Paulo, onde trabalhou fazendo alguns bicos. Ele, que vivia em albergues, acabou indo parar na rua devido a dificuldades e à depressão.

"Devido à depressão, cheguei a morar na rua e conheci as drogas. Tive acesso ao inferno, porque vi ali a minha morte, mas procurei ajuda numa comunidade terapêutica onde fiquei nove meses. Desde essa época consigo ficar sóbrio na questão de uso álcool e drogas, mas a minha vida continua estagnada, como se eu estivesse praticando o uso dos entorpecentes do mesmo jeito", disse.

Ida para Fortaleza

Ainda em São Paulo, o gaúcho conheceu uma cearence, com quem teve um filho. Com a pandemia, porém, a companheira de Rodrigo decidiu voltar para a casa dos país, em seu estado natal.

"Eu continuei fazendo bicos em São Paulo, até que conseguir vir para Fortaleza para tentar ficar perto do meu filho, que por sinal ainda sequer consegui ver por conta das dificuldades que estou passando" revela o ex-segurança.

De acordo com a fonte, mesmo com tantos obstáculos, o entrevistado tem esperanças de que irá conseguir amenizar os traumas que carrega.

"O caso Boate Kiss não é só questão de justiça. Existem vidas que precisam recomeçar, tem brigas de famílias de vítimas, mas tem pessoas que precisam voltar à vida. Eu hoje estou vivo, mas é como se eu tivesse morrido no dia da tragédia, porque tudo perdeu o sentido", desabafou.

"Muitas vezes, morando em situação de rua, perguntava a Deus porque ele me deixou passar por isso agora e questionava o motivo de ele não ter permitido eu partir naquele dia, mas acredito que tudo tem um propósito. Não perco a fé, e uma hora as coisas vão mudar. Na hora certa tudo vai acontecer", disse Rodrigo.