Homem que ficou conhecido como o 'maior especialista em arte do século 18' foi desmascarado após enganar o Palácio de Versalhes e diversos colecionadores
O maior especialista mundial em obras da França do século 18, Bill Pallot, construiu uma carreira bem-sucedida como consultor de museus, galerias e colecionadores, incluindo o renomado Palácio de Versalhes. Apaixonado por cadeiras francesas do século 18, ele se tornou uma figura célebre na sociedade parisiense e no universo da arte, até que um ex-aluno levantou suspeitas e expôs suas falsificações.
Conhecido por seu cabelo longo e trajes de três peças, Pallot foi descrito pela revista Vanity Fair como "o maior especialista mundial em obras da França do século 18". Já a Paris Match o rotulou como "o Bernard Madoff da arte", em referência ao famoso investidor que caiu em desgraça por liderar um esquema de pirâmide em Wall Street.
De acordo com o portal O Globo, no auge de sua influência, a reputação de Pallot levou especialistas franceses a classificarem diversas peças como tesouros nacionais, incluindo assentos atribuídos a Maria Antonieta e à amante de Luís XV, Madame du Barry. Sua fama também lhe permitiu enganar colecionadores ricos, como o príncipe Abdullah bin Khalifa al-Thani, do Catar, fazendo-os acreditar que estavam adquirindo itens históricos genuínos.
O prestígio de Pallot se consolidou quando ele escreveu, há quase 40 anos, o que se tornou a obra de referência sobre o tema: "A Arte da Cadeira na França do Século XVIII", com prefácio de Karl Lagerfeld. No entanto, hoje, ele é lembrado por utilizar seu conhecimento para enganar especialistas e compradores de antiguidades.
As suspeitas sobre a autenticidade das peças atribuídas a Pallot começaram a surgir anos antes, principalmente levantadas por seu ex-aluno Charles Hooreman, que também seguiu carreira no campo das antiguidades.
Em 2012, Hooreman identificou sinais de fraude em bancos dobráveis anunciados como pertencentes à Princesa Louise Élisabeth, filha mais velha do Rei Luís XV. Ele reconheceu o uso de alcaçuz derretido para envelhecer a madeira — uma técnica utilizada por Bruno Desnoues, marceneiro parceiro de Pallot.
Após anos de investigação, Pallot e outros cinco acusados — incluindo Desnoues —compareceram ao tribunal em Pontoise, perto de Paris, na última terça-feira, enfrentando acusações de fraude com móveis antigos falsificados.
Em 2016, o Ministério da Cultura francês declarou que a polícia investigava a autenticidade de móveis avaliados em 2,7 milhões de euros (R$ 16,6 milhões), incluindo cadeiras atribuídas a Luís XV adquiridas pelo Palácio de Versalhes. A constatação de que as peças eram falsas levou à prisão de Pallot e à mudança de procedimentos de autenticação de antiguidades na França.
O julgamento, que deve continuar no próximo mês, reflete um momento crítico para o mundo da arte e das antiguidades, marcado por falsificações sofisticadas e esquemas complexos. Embora corra o risco de enfrentar anos de prisão, Pallot espera poder explicar sua versão dos fatos, buscando circunstâncias atenuantes para sua pena.