Na verdade, eles já foram feitos dezenas de vezes. Entenda por que nunca foi adiante
Carros voadores são uma promessa da ficção científica que nossos bisavós já ouviam e que nunca se materializou. E aqui estamos nós, um site de História, falando neles.
Isso porque o carro voador já foi feito e já voou. O Demoiselle de Santos Dumont, de 1907, foi o primeiro avião a ser produzido em massa. Minúsculo, ele era pensado para ir de casa ao trabalho e ser guardado no quintal. Na prática, serviu para treinar os primeiros pilotos – que lutaram na Primeira Guerra, para grande desgosto do pioneiro brasileiro.
Santos Dumond, 1907 Domínio público O primeiro carro voador autêntico, um veículo para andar na estrada e no céu, surgiu dez anos depois – há um século. Criado pelo pioneiro Glenn Curtiss, o Curtiss Autoplane era um carro movido a hélice com asas e cauda destacáveis. O projeto não foi para a frente porque os EUA entraram na Primeira Guerra e Curtiss teve que atender a outras encomendas. Em 1921, Rene Tampier dobrava as asas de seu avião e desfilava por entre os carros e bondes nas ruas de Paris.
Outra Grande Guerra depois, em 1947, o engenheiro Henry Dreyfuss criou o Convaircar, um modelo que parecia saído da cabeça de uma criança de 12 anos. Um carro convencional, feito de fibra de vidro, com todo o equipamento de avião preso no teto. Nota zero em aerodinâmica, a geringonça foi ao ar, mas acabou despencando e matando o piloto de testes. A mesma ideia desengonçada seria tentada em 1971, com o AVE Mizar, uma fuselagem presa a um Ford Pinto – carro famoso por explodir ao menor impacto. Surpresa, também terminou em catástrofe.
Henry Dreyfuss, 1947 Wikimedia Commons Em 1953, havia nascido um modelo bem mais elegante, mas também destinado à tragédia. O Autoplane de Leland Bryan, um aviãozinho cujas asas se fechavam num quadrado para andar na estrada. Bryan desenvolveria seus carros voadores por 21 anos, até 1974, quando seu modelo III, com 70 horas de voo e 1600 quilômetros percorridos em solo, perdeu suas asas em voo baixo.
Leland Bryan, 1953 / Domínio público Talvez o mais próximo que os carros voadores chegaram de se tornar realidade foi o Aerocar de Moulton Taylor, que atraiu a atenção da Ford e chegou a ter um contrato com a indústria Ling-Temco-Vought para a produção em massa. Infelizmente, as pré-vendas não conseguiram cumprir a cota de 500 unidades previstas no contrato, e o Aerocar também não foi adiante.
Note: estamos escolhendo exemplos de uma lista com dezenas. Toda a época tem alguém anunciando um carro voador. O mais recente a gerar bafafá foi o Terrafugia Transition, que ganhou a aprovação para voar e andar na estrada ano passado, e deve começar a ser entregue em 2019.
Mas, afinal, se o carro voador foi inventado tantas vezes, por que nunca colou? Vejamos o Terrafugia: ele só pode decolar de um aeroporto, e você precisa de um brevê de aviador para “dirigi-lo” pelo ar. Primeiro porque, sendo um veículo que vai cruzar os ares do campo e da cidade, ele precisa de autorização do tráfego aéreo para decolar. Segundo porque é, para todos os fins, um avião: dirigi-lo não é mais fácil que voar. Enquanto tirar uma carteira de motorista custa algumas centenas de reais, um brevê está nas dezenas de milhares. Enfim, o que se tem não é um carro voador, mas um avião que dá para guardar na garagem.
Terrafugi, 2006 terrafugia.com Talvez num futuro nem tão distante, em que seja possível confiar o controle totalmente aos computadores, as leis possam mudar para permitir a alguém decolar da porta de casa com uma carteira de motorista (ou nenhuma, pensando melhor). Veremos as filas de veículos cruzando os céus da cidade como na ficção científica. Fica a pergunta: como você dormiria sob a ameaça de um acidente de trânsito entrando pelo telhado?