Apesar da enorme estatura e dos quase 80 quilos, o maior roedor já registrado na América do Sul tinha o cérebro cerca de 10 vezes menor que de um ser humano
Cientistas descobriram a existência de um enorme rato pré-histórico que habitou a região do estado do Acre há 10 milhões de anos. O gigantesco roedor, que pesava 80 quilos, poderia alcançar o 1,80 metro quando apoiado nas patas traseiras — em média, o homem brasileiro tem 1,73 metro de estatura.
O maior roedor já registrado na América do Sul tinha dois enormes dentes incisivos e curvos, e ganhou o nome científico de Neoepiblema acreensis.
“O Neoepiblema tinha cerca de 1,80 metro de comprimento e pesava cerca de 80 quilos, o que ultrapassa a capivara, o maior roedor vivo, que tem cerca de 60 quilos. Este roedor é um parente extinto das chinchilas e pacaranas e habitou a Amazônia brasileira ocidental há cerca de 10 milhões de anos. Vivia em ambientes pantanosos que ali existiam antes do surgimento de uma das maiores florestas tropicais do mundo", declarou José Ferreira, da Universidade Federal de Santa Maria e principal autor do estudo.
Uma reconstrução digital do cérebro do roedor, usando tomografia computadorizada, permitiu determinar o tamanho da massa encefálica do animal: que pesava apenas 114 gramas — para efeito comparativo, o cérebro humano pesa 1.4 quilos. O cérebro da criatura era pequeno porque a energia necessária para fazê-lo pensar consumiria muita energia.
"O valor adaptativo de um baixo custo energético e outros fatores ecológicos estão possivelmente associados ao tamanho relativamente pequeno do cérebro de roedores gigantes. A evolução ao longo do tempo desta relação entre cérebro e tamanho do corpo é conhecida como encefalização", explica Ferreira.
Os crânios de duas criaturas foram encontrados em um local fóssil no estado do Acre. Um estava quase completo: com impressões de bulbos olfativos — a região do cérebro que processa o odor — e dos lobos frontal e temporal — responsável pelos pensamentos e ações.
Atualmente, existe mais de 2.000 espécies vivas de roedores, o que constitui quase metade dos tipos de mamíferos do planeta. Entre eles, estão inclusos porcos-espinhos, castores, esquilos, marmotas e chinchilas.
"Alguns membros extintos da América do Sul deste ramo atingiram o tamanho de um corpo gigantesco durante o final do [período] Mioceno, há cerca de 10 milhões de anos", diz o pesquisador. O tamanho do animal significa que havia poucos predadores naturais, talvez apenas grandes crocodilos que usavam técnicas de esperar para atacá-los em momentos de maior vulnerabilidade.
A pesquisa está disponível na revista Biology Letters.