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Matérias / Cinema

A narrativa trans por trás da franquia Matrix, segundo diretora

Com o lançamento de ‘Matrix Resurrections’, entenda o que as irmãs Wachowski queriam mostrar com os revolucionários filmes

Isabela Barreiros Publicado em 05/08/2020, às 16h14 - Atualizado em 26/12/2021, às 08h00

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Cena do filme Matrix (1999) - Divulgação/Warner Bros
Cena do filme Matrix (1999) - Divulgação/Warner Bros

Desde que começou, em 1999, a franquia Matrix vem transformando a indústria cinematográfica. Além de trazer efeitos gráficos revolucionários para a época, os filmes também propuseram reflexões importantes para quem os assistisse.

Com a famosa metáfora da pílula vermelha ou azul, os longas-metragens se tornaram um símbolo do questionamento acerca da realidade em que se vive, quando Neo descobre, assim como todas as pessoas que conhece, que é vítima da Matrix, uma realidade virtual.

A história é conhecida. Seres humanos que não sabem que estão sendo manipulados, já que conseguem ter a ilusão de um mundo real, enquanto seus cérebros e corpos são usados por sistemas de inteligência artificial que só querem sugá-los para produzir energia.

Com o lançamento de “Matrix Resurrections”, que fez com que a franquia retornasse às telonas depois de quase 20 anos, o universo das irmãs Wachowski, responsáveis pela direção e roteiro dos primeiros filmes, ficou ainda mais curioso.

Keanu Reeves e Carrie-Anne Moss em "Matrix Resurrections" (2021) / Crédito: Divulgação/Warner Bros

No entanto, o que nem todos sabem é que Lilly Wachowski chegou a confirmar uma das teorias propostas por pesquisadores e fãs, entre tantas outras desenvolvidas sobre as produções, que continua sendo um sucesso tanto de bilheteria quanto na cultura.

Em entrevista para Netflix Film Club em 2020, a cineasta afirmou que narrativa criativa é uma alegoria para a vivência de uma pessoa trans. “Eu fico feliz que isso foi revelado, que essa era a intenção original”, afirmou.

Lana Wachowski se assumiu como uma mulher trans em 2010, ainda que rumores sobre sua identidade de gênero circulassem desde o lançamento do então último filme da saga Matrix, em 2003. Em 2016, foi a vez de sua irmã, Lilly.

Com a revelação das duas, as teorias sobre as verdadeiras intenções por trás dos filmes começaram a ganhar cada vez mais força. Hoje, elas fazem parte do ativismo que luta pelos direitos das pessoas LGBTQIA+. Mas, na época, não era bem assim.

"Não sei o quão presente minha transexualidade estava presente no fundo do meu cérebro enquanto o escrevíamos", explicou Lilly. “Sempre vivíamos em um mundo de imaginação. É por isso que eu fui para ficção científica e fantasia”.

“[Eu] joguei Dungeons and Dragons. Era tudo sobre a criação de mundos. Isso nos libertou como cineastas porque conseguimos imaginar coisas na época que você não via necessariamente na tela”, prosseguiu.

Lilly explicou que a própria Matrix, na verdade, "era toda sobre o desejo de transformação, mas era tudo de um ponto de vista fechado". Era, de fato, uma metáfora para a identidade trans em um mundo cisnormativo.

Como ressalta a jornalista Laura Hale em um artigo sobre a temática, conforme o jornal El País, a segunda palavra do filme, que aparece na linha do texto da tela assim que começamos a assistir o filme é “Call trans opt”. Pode ter sido uma coincidência. Ou não.

Primeira tela escrita de "Matrix" (1999) / Crédito: Divulgação/Warner Bros

O personagem Switch, interpretado por Belinda McClory, também tem gêneros diferentes dentro e fora da Matrix. Segundo a cineasta, isso aconteceu porque era “onde estavam nossos espaços mentais”.

Outro ponto importante é Neo, Keanu Reeves na franquia, recusar o nome imposto a ele durante toda sua vida na realidade virtual da Matrix. Essa representação reflete muito a experiência vivida por pessoas transexuais.

A crítica e jornalista Emily VanDerWerff resume: “O filme inteiro gira em torno da transcendência das formas de experiência física para explorar as possibilidades de nossa mente. Os corpos são, na melhor das hipóteses, uma sugestão. Seu cérebro é o que realmente importa”.

Belinda McClory como Switch em Matrix / Crédito: Cena do filme Matrix (1999)

Embora tudo isso tenha ficado por muito tempo como parte de teorias desenvolvidas em fóruns e artigos acadêmicos, Lilly entendeu que chegou o momento de confirmar o que já suspeitávamos.

“O mundo não estava preparado, em um nível corporativo… O mundo corporativo não estava pronto para isso”, justificou a diretora.

Agora, ela conta como é importante que Matrix seja entendido exatamente como é: “Eu amo como esses filmes são significativos para as pessoas trans e a maneira como eles vêm até mim e dizem: 'Esses filmes salvaram minha vida'”.

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