Há 103 anos o último czar russo encontrava um fim brutal junto com sua família, mas antes enfrentou crises no governo e precisou abdicar o trono
Nicolau Romanov é descrito de muitas formas nos livros de História, mas algo que parece ser consenso entre os historiadores sobre o último czar da Rússia era sua incompetência e falta de habilidade para governar.
A Rússia do século 20 ainda tinha 85% da população vivendo no campo, e o sistema feudal havia ruído no século anterior; a agricultura passava por mudanças drásticas que resultavam no empobrecimento da população camponesa.
Enquanto Nicolau II vivia no luxo com sua família, o povo passava fome e enfrentava a miséria. As condições trabalhistas também não eram boas, com turnos de mais de 15 horas diárias, o baixo salário fez com que os operários, aos poucos, começassem a se revoltar contra o governo.
As greves ficaram cada vez mais frequentes. Por outro lado, Nicolau se tornava cada vez mais autoritário. O czar criou um departamento policial (chamado ‘Okrana’) para conter a insatisfação dos trabalhadores.
Um dos episódios mais infames que marcou o período que Nicolau Romanov ficou no poder foi o Domingo Sangrento, onde manifestantes foram atacados pelas autoridades em São Petersburgo, tornando o protesto em um verdadeiro banho de sangue.
Segundo explicou o mestre em História, Rainer Sousa, para o site Mundo Educação, após muita pressão, o czar decidiu criar a Duma, um parlamento onde era possível que pequenos líderes comunitários discutissem problemas do Império e melhorias para a situação social.
O que era para ser um avanço para a nação, instigou o lado sombrio de Nicolau, que não queria abrir mão de seu poder absoluto ou mesmo aceitar as demandas do povo.
A Duma abriu espaço para a aparição dos opositores do governo, que cada vez mais conseguiam apoio popular e apontavam os inúmeros erros cometidos pelo czar. Entre as ações mal planejadas de Nicolau, se destaca a guerra com o Japão, em 1904; o conflito resultou numa derrota devastadora para os russos.
Camponeses, soldados, marinheiros e operários estavam contra Nicolau. Para Sousa, o golpe final veio com a entrada do Império Russo na Primeira Guerra Mundial, as inúmeras mortes nas batalhas e a fome se alastrando por todo o território já não eram mais suportadas pelo povo.
Daniel Aarão Reis Filho, historiador e autor da obra ‘A Revolução Russa: 1917-1921’,conta que a entrada do país na guerra teve efeitos catastróficos: “começaram a faltar gêneros essenciais e a indústria, concentrada em atender às necessidades do Exército, não produzia bens de consumo corrente”.
Um protesto em fevereiro de 1917, no qual a população foi para as ruas e depredou lojas em busca de comida, fez com que Nicolau tomasse uma decisão extrema. Um mês depois, em 15 de março de 1917, o czar abdicou o trono.
Não só uma razão, mas o conjunto de ações equivocadas, autoritarismo, desperdício de dinheiro e armamento bélico levaram para o caminho que terminou com a renúncia do líder imperial.
Exilados, os Romanov foram alocados na Casa Ipatiev, onde eram vigiados 24 horas por dia. A situação que parecia controlada, no entanto, encontrou um desfecho sanguinário: todos os membros foram executados em 17 de julho de 1918, há 103 anos, por ordem do Soviete Regional Ural.