Experimento inédito que reproduz as condições interiores desses corpos celestes explica como fenômeno é possível
Talvez Netuno e Urano sejam os planetas mais confusos de nosso Sistema Solar, afinal, os dois estão tão distantes que apenas uma sonda espacial, a Voyager 2, se aproximou deles — e isso foi apenas um sobrevoo e não uma missão de longo prazo.
Entretanto, o que acontece no coração desses dois gigantes de gelo pode ser muito mais complexo e curioso do que muitos imaginam. Uma pesquisa recente publicada na ScienceAlert mostra que dentro desses dois corpos celestes pode estar chovendo diamantes.
O estudo sugere que o calor e a pressão são intensos há milhares de quilômetros abaixo da superfície e que isso seria o suficiente para separar os compostos de hidrocarboneto, o que endureceria o carbono em diamantes.
Para isso, a equipe de pesquisadores usou um laser de raio-x do SLAC National Accelerator Laboratory’s Linac Coherent Light Source (LCLS) para imitar de perto as condições interiores dos planetas e estabelecer o que acontece dentro deles.
Com isso, conseguiram medir como esse processo de “chuva de diamantes” deve ocorrer, concluindo que o carbono transita diretamente em diamante cristalino — isso provavelmente se traduziria em uma chuva de diamantes a 10 mil quilômetros de profundidade, que afundam lentamente na direção dos núcleos dos planetas.
“Esta investigação fornece dados sobre um fenómeno que é muito difícil de modelar computacionalmente: a miscibilidade de dois elementos, ou a forma como se combinam quando misturados”, explicou Mike Dunne, físico de plasma e diretor do LCLS, em comunicado.
O experimento inédito também será valioso para examinar os ambientes de outros planetas, explica o grupo. "Essa técnica nos permitirá medir processos interessantes que são difíceis de recriar", disse Dominik Kraus, cientista da Helmholtz-Zentrum Dresden-Rossendorf que liderou o novo estudo. "Por exemplo, poderemos ver como o hidrogênio e o hélio, elementos encontrados no interior de gigantes gasosos como Júpiter e Saturno, se misturam e se separam sob essas condições extremas."
Ele acrescentou: "É uma nova maneira de estudar a história evolutiva de planetas e sistemas planetários, além de apoiar experimentos para possíveis formas futuras de energia da fusão".