O posicionamento do deputado federal chamou atenção nas redes sociais nesta segunda-feira, 7, após a divulgação do programa
Na última segunda-feira, 07, um novo episódio do podcast Flow veio ao ar, com os deputados Tabata Amaral e Kim Kataguiri como convidados. Diversos pontos da conversa, então, viralizaram nas redes sociais, já que, em determinado momento, o apresentador do programa, Monark, compartilhou diversas falas antissemitas.
Em debate com Tabata Amaral, do PSB-SP, por exemplo, ele chegou a afirmar que a “esquerda radical tem muito mais espaço do que a direita radical” e que, “as duas tinham que ter espaço”. Com isso, Monark ainda afirmou que, em sua opinião, “tinha que ter partido nazista reconhecido pela lei”.
Ele, então, foi logo rebatido por Tabata, que foi categórica ao afirmar: “Liberdade de expressão termina onde a sua expressão coloca a vida do outro em risco. O nazismo é contra a população judaica. Isso coloca uma população inteira em risco”.
A discussão prosseguiu e a deputada federal virou-se para o deputado Kim Kataguiri, que também participava do debate. Tabata, então, questionou: “Você acha que é errado a Alemanha ter criminalizado o nazismo?”. “Acho”, respondeu o deputado do Podemos.
O trecho da interação, então, foi divulgado pelo perfil do Jornalismo Wando no Twitter. A publicação, por sua vez, foi citada pelo coletivo Judeus pela Democracia, que escreveu: “O Kim Kataguiri é contra a criminalização do nazismo".
Para ele [Kim], apoiar e fazer apologia ao ódio, à perseguição e à execução de judeus e outras minorias não deveria ser crime. É isso mesmo ou o vídeo está editado?”, questionou o coletivo.
O @KimKataguiri , por sua vez, é contra a criminalização do nazismo. Para ele, apoiar e fazer apologia ao ódio, à perseguição e à execução de judeus e outras minorias não deveria ser crime. É isso mesmo ou o vídeo está editado?https://t.co/1l0ux60DXG
— Judeus pela Democracia - Oficial (@jpdoficial1) February 8, 2022
Diante da fala antissemita de Monark, o apresentador do podcast, entidades judaicas se manifestaram, pedindo que patrocionadores deixem de financiar o programa. Nesse sentido, o podcast conta com marcas como iFood, Flash Benefícios e Insider Store.
“É sério que vocês vão continuar patrocinando quem diz que ‘tinha que ter o partido nazista, reconhecido pela lei’ e que ‘se o cara quiser ser um anti-judeu, eu acho que ele tinha direito de ser'?', questionou o Instituto Brasil-Israel à Insider Store.
Oi, @Insiderstore, tudo bem?
— Instituto Brasil-Israel 💉 (@ibi_br) February 8, 2022
Responde rapidinho aqui pra gente.
É sério que vocês vão continuar patrocinando quem diz que "tinha que ter o partido nazista, reconhecido pela lei" e que "se o cara quiser ser um anti-judeu, eu acho que ele tinha direito de ser"? pic.twitter.com/KvVX32dE4J
Ao cobrar repostas das marcas, o coletivo Judeus pela Democracia também afirmou: "Ideologias que visam a eliminação de outros têm que ser proibidas. Racismo e perseguições a quaisquer identidades não são liberdade de expressão".
Ideologias que visam a eliminação de outros têm que ser proibidas. Racismo e perseguições a quaisquer identidades não são liberdade de expressão.@tabataamaralsp perfeita na resposta, mas um detalhe: nazismo é contra a existência não só de judeus, mas de todos os "diferentes" pic.twitter.com/jfVHhYf3Hr
— Judeus pela Democracia - Oficial (@jpdoficial1) February 8, 2022
Após a polêmica nas redes sociais, o apresentador se pronunciou a respeito do episódio. Em um vídeo, de quase nove minutos, ele expressa que é contrário ao nazismo e vê isto como uma posição ‘criminosa, hedionda, nojenta’.
“O nazismo é algo abominável, é um pensamento ridículo, é algo que qualquer pessoa que pense ou tenha essas ideias é uma retardada mental. Na minha opinião, ela é idiota, completa imbecil, é uma pessoa que tem ser educada para que deixe de pensar dessa forma. A gente não pode mais aceitar hoje na nossa sociedade esse tipo de pensamento, criminoso, hediondo, nojento”, afirmou.
Porém, Monark defende o que disse sobre a legalização de um partido nazista, dizendo que é a favor de sua própria versão da liberdade de expressão. Na sua visão, todos deveriam poder dizer o que quiserem, pois assim é mais fácil identificar quem é ‘idiota’.
“Minha ideia de liberdade de expressão é que o cara fale que ele é idiota para que a gente possa saber quem é idiota e possa educar essa pessoa, ou, se for possível, se afastar dessa pessoa. E, se ela estiver cometendo algum crime, punir. É muito mais fácil descobrir quem ela é se a gente deixa ela falar”, posicionou-se.
Além de desculpar-se e retratar-se, afirmando que “estava bêbado ”, o youtuber criticou a suposta ‘cultura do cancelamento’, colocando-se acima das críticas nas redes sociais pois o programa é, em suas palavras, um dos únicos na atualidade que abre conversas com todos dos diversos espectros políticos.
"Essa cultura de cancelamento está um pouco absurda. Eu simplesmente não consigo mais ter conversas no meu programa. Vocês têm que entender que estou lá há quatro horas conversando com pessoas sobre os assuntos mais delicados e complexos que a gente pode falar na nossa sociedade", refletiu.
Em outra parte do vídeo, o apresentador pediu desculpa diante da repercussão nas redes sociais.
“Galera, eu queria fazer esse vídeo só para pedir desculpa mesmo porque eu errei, a verdade é essa. Eu tava muito bêbado e fui defender uma ideia que acontece em outros lugares no mundo, mas fui defender essa ideia de um jeito muito burro e tava bêbado. Eu falei de uma forma muito insensível com a comunidade judaica. Porra, eu peço perdão pela minha insensibilidade”, explicou Monark em vídeo divulgado nas redes sociais.
Monark continua e pede compreensão.
“Mas peço um pouco de compreensão. São quatro horas de conversa e eu estava um pouco bêbado. Fui insensível, sim, fui insensível e errei na forma como eu me expressei. Dá a entender que eu tô defendendo coisas abomináveis, é uma merda, errei pra caralho. Peço compreensão de vocês e peço desculpas a toda comunidade judaica. Não queria ser insensível e não foi a minha intenção. Convido os representares dessa comunidade para vir conversar comigo e explicar em sobre toda a história. Obrigado”, disse ele.
Durante o Holocausto na Segunda Guerra Mundial (1939 -1941), estima-se que cerca de 5 a 6 milhões de judeus tenham sido mortos pelo regime nazista, sob a justificativa de uma supremacia da raça ariana. Além deles, ciganos, Testemunhas de Jeová, homossexuais e pessoas com deficiência também foram perseguidos pelo regime.
No Terceiro Reich, aqueles excluídos da ‘raça ariana’ eram enviados para campos de trabalho forçado e execução. Uma das vítimas brasileiras do Holocausto é Andor Stern.
“Eu tive o privilégio de ter reposto tudo que eu perdi. A vida me compensou de verdade: me deu, por exemplo, uma família maravilhosa e a oportunidade de, ainda com a minha idade, ser lúcido. Eu não tenho muito do que reclamar da vida, ainda que tenha vivido o que eu presenciei”, disse ele em entrevista ao site Aventuras na História no ano passado.