Descoberta na atual Alemanha, cota de malha romana revela detalhes sobre reciclagem de equipamentos longe de centros de suprimentos militares
Publicado em 12/12/2024, às 13h30
Em 2012, arqueólogos descobriram nas proximidades da fortaleza legionária romana em Bonn, na Alemanha, um surpreendente estoque de 14 quilos de armadura de cota de malha, enquanto escavavam um assentamento civil (chamado de vicus). Agora, um novo estudo aponta como a descoberta revela mais sobre a relação entre os soldados e civis na região, e como ocorria a reciclagem de equipamentos longe dos centros de suprimentos militares.
A descoberta consiste em pelo menos quatro peças de malha — das quais, duas estão completas, e outras duas, fragmentadas — que, devido à corrosão e ao tempo, se tornaram uma única massa.
Um detalhe importante sobre as armaduras de cota de malha é que, ao contrário de outras peças e objetos de metal, que podiam simplesmente ser derretidos para criar outros utensílios, elas consistiam em pequenos anéis interconectados. Por isso, a reciclagem do material era tecnicamente mais complicada, e demandava de métodos alternativos como, por exemplo, utilizar-se de "doadores" para remendos.
E na pesquisa recente, desenvolvida por especialistas do LVR-Amt für Bodendenkmalpflege im Rheinland, do LVR-LandesMuseum Bonn e da Academia Tcheca de Ciências, analisaram a armadura a partir de tomografias computadorizadas, que revelaram detalhes intrincados na armadura, como anéis de diferentes tamanhos. O estudo em questão foi publicado na última terça-feira, 10, na Antiquity.
Devido à peculiaridade, os pesquisadores agora acreditam que aquele local em que a cota de malha estava escondida seria, na verdade, um estoque destinado especialmente ao reparo de armaduras. Escavado em um poço do lado de fora de uma casa de vicus, ela provavelmente era um recurso de artesãos locais que, inclusive, trabalhariam em colaboração ao exército romano.
Esta é a primeira evidência clara de que uma armadura de malha estava sendo reparada fora de uma instalação militar romana", destaca em comunicado o Dr. Martijn Wijnhoven, da Academia Tcheca de Ciências.
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Conforme repercute o Archaeology News, o vicus em questão era um assentamento extramuros ligado à fortaleza de Bonn, e teria sido fundamental aos militares da região. Isso porque artesãos locais seriam os responsáveis por processar resíduos militares, até mesmo sucata, para remendar as armaduras no local, que era a fronteira germânica do império, onde os recursos eram escassos e, por isso, o exército dependia do apoio de civis para manter a prontidão.
Dessa forma, é descrito pelos pesquisadores que o local era palco de uma relação simbiótica entre os soldados romanos e comunidades civis. Vale mencionar ainda que outros sítios de fronteira frequentemente possuem evidências de depósitos rituais ou funerários, mas o esconderijo em que a cota de malha foi encontrada parecia, por sua vez, ser puramente funcional, sendo abandonado por volta do século 3 durante o desmantelamento do vicus.
Sobre o abandono da área, é descrito que, ao contrário de outros cenários semelhantes que giram em torno de destruição violenta, o vicus de Bonn foi desmantelado ainda de maneira organizada, provavelmente em uma retirada planejada. Nesses casos, materiais pesados, incluindo armaduras, costumavam ser enterrados para que os inimigos não os tomassem.
Assim, os soldados romanos contavam com a reciclagem e reparo pelas mãos dos civis locais, enquanto se adaptavam aos desafios da vida na fronteira, distante de Roma. Agora, o esconderijo está abrigado no LVR-LandesMuseum Bonn.