Jovens Polacas, dirigido por Alex Levy-Heller, conta a história de mulheres judias que, fugindo da Europa, tiveram uma triste vida no Rio de Janeiro. Confira o trailer!
Adaptação de romance homônimo, o filme Jovens Polacas ainda não tem data de estreia, mas promete ecoar no cinema nacional. De autoria do cineasta Alex Levy-Heller, o longa retrata a história contada por Esther Largman das memórias de Mira (Jacqueline Laurance) em sua vida num bordel, onde via sua mãe e outras mulheres polacas sendo exploradas por um cafetão.
A narrativa cinematográfica passará pela ótica do jornalista Ricardo (Emilio Orciollo Netto), um homem realizando pesquisa que expõe a dificuldade dessas mulheres. O filme promete ser lúdico, com alta carga poética e cheio de referências à história da Arte, mesmo tratando da exploração sexual das jovens judias fugidas para o Rio de Janeiro.
A obra cinematográfica também apresenta cenas filmadas no Cemitério das Polacas (Inhaúma), onde essas mulheres criaram um local de sepultamento e uma sinagoga.
Além dos já citados, o elenco conta com Berta Loran, Flavio Migliaccio e Lorena Castenheira. É classificado como drama, mas promete espaço para todos os amantes do cinema aproveitarem essa história.
História
Por quase um século, elas se prostituíram em ruas de grandes cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Buenos Aires e Nova York. Judias, nascidas no Leste Europeu e conhecidas como polacas, essas prostitutas eram pobres, quase sempre analfabetas e sem dote para um bom casamento. Saíram de seus países ameaçadas por ondas de anti-semitismo, sem perspectivas, e acabaram recrutadas por cafetões – muitos também judeus.
A história, que acaba de ser contada no livro Bertha, Sophia e Rachel, de Isabel Vincent, é estudada há anos pela historiadora Beatriz Kushnir, diretora do Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro e autora de Baile de Máscaras. Segundo ela, o relato mais antigo da trajetória delas por aqui fala da chegada, em 1867, de 104 meretrizes estrangeiras ao porto do Rio — dessas, 67 ficaram e 37 seguiram para Argentina. “No período, o mercado brasileiro era propício à prostituição, com a população masculina bem maior que a feminina”, diz Beatriz.
Na virada para o século 20, o chamado tráfico de escravas brancas virou debate mundial. O declínio ocorreu nos anos 1940. Judeus haviam sido exterminados pelo nazismo no Leste Europeu e os que sobreviveram eram imigrantes com outro perfil, o de refugiados.
No Brasil, as zonas do meretrício do Mangue e da Lapa, no Rio, e do Bom Retiro, em São Paulo, foram extintas nessa época. A história delas por aqui foi esquecida. Primeiro porque não tinham sucessoras. Depois porque sempre foram discriminadas – inclusive pela sociedade judaica brasileira da época, que não permitia a elas nem um enterro digno.
A maior parte das polacas está enterrada em cemitérios construídos por associações que fundaram no Brasil, como o Cemitério Israelita de Inhaúma, no Rio.
Expressões usadas pelas polacas judias deram origem a palavras hoje muito populares no Brasil. Quando suspeitavam que um cliente tinha doença venérea, diziam ein krenke (doença, em iídiche), que acabou se transformando em encrenca. E, quando a polícia dava incertas nos bordéis, elas gritavam sacana (polícia) – que virou sacanagem.
Confira o trailer do filme.