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Notícias / Entretenimento

Filme retrata a exploração sexual das polacas, prostitutas judias no Brasil do século 19

Jovens Polacas, dirigido por Alex Levy-Heller, conta a história de mulheres judias que, fugindo da Europa, tiveram uma triste vida no Rio de Janeiro. Confira o trailer!

André Nogueira Publicado em 02/09/2019, às 15h00

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Crédito: Reprodução
Crédito: Reprodução

Adaptação de romance homônimo, o filme Jovens Polacas ainda não tem data de estreia, mas promete ecoar no cinema nacional. De autoria do cineasta Alex Levy-Heller, o longa retrata a história contada por Esther Largman das memórias de Mira (Jacqueline Laurance) em sua vida num bordel, onde via sua mãe e outras mulheres polacas sendo exploradas por um cafetão.

A narrativa cinematográfica passará pela ótica do jornalista Ricardo (Emilio Orciollo Netto), um homem realizando pesquisa que expõe a dificuldade dessas mulheres. O filme promete ser lúdico, com alta carga poética e cheio de referências à história da Arte, mesmo tratando da exploração sexual das jovens judias fugidas para o Rio de Janeiro.

A obra cinematográfica também apresenta cenas filmadas no Cemitério das Polacas (Inhaúma), onde essas mulheres criaram um local de sepultamento e uma sinagoga. 

Além dos já citados, o elenco conta com Berta Loran, Flavio Migliaccio e Lorena Castenheira. É classificado como drama, mas promete espaço para todos os amantes do cinema aproveitarem essa história.

Cartaz do filme / Crédito: Divulgação

História

Por quase um século, elas se prostituíram em ruas de grandes cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Buenos Aires e Nova York. Judias, nascidas no Leste Europeu e conhecidas como polacas, essas prostitutas eram pobres, quase sempre analfabetas e sem dote para um bom casamento. Saíram de seus países ameaçadas por ondas de anti-semitismo, sem perspectivas, e acabaram recrutadas por cafetões – muitos também judeus.

A história, que acaba de ser contada no livro Bertha, Sophia e Rachel, de Isabel Vincent, é estudada há anos pela historiadora Beatriz Kushnir, diretora do Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro e autora de Baile de Máscaras. Segundo ela, o relato mais antigo da trajetória delas por aqui fala da chegada, em 1867, de 104 meretrizes estrangeiras ao porto do Rio — dessas, 67 ficaram e 37 seguiram para Argentina. “No período, o mercado brasileiro era propício à prostituição, com a população masculina bem maior que a feminina”, diz Beatriz.

Na virada para o século 20, o chamado tráfico de escravas brancas virou debate mundial. O declínio ocorreu nos anos 1940. Judeus haviam sido exterminados pelo nazismo no Leste Europeu e os que sobreviveram eram imigrantes com outro perfil, o de refugiados.

No Brasil, as zonas do meretrício do Mangue e da Lapa, no Rio, e do Bom Retiro, em São Paulo, foram extintas nessa época. A história delas por aqui foi esquecida. Primeiro porque não tinham sucessoras. Depois porque sempre foram discriminadas – inclusive pela sociedade judaica brasileira da época, que não permitia a elas nem um enterro digno.

A maior parte das polacas está enterrada em cemitérios construídos por associações que fundaram no Brasil, como o Cemitério Israelita de Inhaúma, no Rio.

Expressões usadas pelas polacas judias deram origem a palavras hoje muito populares no Brasil. Quando suspeitavam que um cliente tinha doença venérea, diziam ein krenke (doença, em iídiche), que acabou se transformando em encrenca. E, quando a polícia dava incertas nos bordéis, elas gritavam sacana (polícia) – que virou sacanagem.

Confira o trailer do filme.