O episódio foi um entre os primeiros atos violentos cometidos por agentes do Terceiro Reich contra judeus
A comunidade judaica repudiou uma postagem feita pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, que comparou uma operação de busca e apreensão feita pela Polícia Federal, em relação ao inquérito das fake news, com um episódio cometido por alemães nazistas contra judeus.
Em seu perfil no Twitter, Weintraub disse que a operação que visa investigar ataques a membros do Supremo Tribunal Federal, o STF, que foi realizada ontem, 27, pela PF será lembrada como a Noite dos Cristais brasileira — um dos primeiros atos violentos cometidos por nazistas contra judeus entre os dias 9 e 10 de novembro de 1938.
"Hoje foi o dia da infâmia, VERGONHA NACIONAL, e será lembrado como a Noite dos Cristais brasileira. Profanaram nossos lares e estão nos sufocando. Sabem o que a grande imprensa oligarca/socialista dirá? SIEG HEIL!", escreveu o ministro que ainda usou uma imagem nazista para ilustrar sua publicação.
Hoje foi o dia da infâmia, VERGONHA NACIONAL, e será lembrado como a Noite dos Cristais brasileira. Profanaram nossos lares e estão nos sufocando. Sabem o que a grande imprensa oligarca/socialista dirá? SIEG HEIL! pic.twitter.com/8rIGUbRSIM
— Abraham Weintraub (@AbrahamWeint) May 27, 2020
A operação da PF investigou, entre políticos e empresários, diversos aliados do presidente Jair Bolsonaro, o que irritou o ministro. Ao todo, 29 mandados foram expedidos pelo ministro Alexandre de Moraes — que foi o responsável por conduzir o inquérito.
A Confederação Israelita do Brasil, por meio de uma nota oficial, condenou a comparação feita pelo ministro. Veja na íntegra o texto publicado:
“Não há comparação possível entre a Noite dos Cristais, perpetrada pelos nazistas em 1938, e as ações decorrentes de decisão judicial no inquérito do STF, que investiga fake news no Brasil. A Noite dos Cristais, realizada por forças paramilitares nazistas e seus simpatizantes, resultou na morte de centenas de judeus inocentes, na destruição de mais de 250 sinagogas, na depredação de milhares de estabelecimentos comerciais judaicos e no encarceramento e deportação a campos de concentração. As ações do inquérito, por sua vez, se dão dentro do ordenamento jurídico, assegurado o direito de defesa, ao qual as vítimas do nazismo não tinham acesso. A comparação feita pelo ministro Abraham Weintraub é, portanto, totalmente descabida e inoportuna, minimizando de forma inaceitável aqueles terríveis acontecimentos, início da marcha nazista que culminou na morte de 6 milhões de judeus, além de outras minorias.”
Já o coletivo Judeus pela Democracia usou o perfil no Twitter para repudiar a fala de Weintraub: “A Noite dos Cristais não foi virtual, mas foi o linchamento real a judeus. O objetivo de hoje foi tentar evitar que novas “noites dos cristais” aconteçam com outros povos e pessoas.”
A ação a mando do STF visa buscar quem financia Fake News e evitar novos linchamentos virtuais.
— Judeus pela Democracia - Oficial (@jpdoficial1) May 27, 2020
A Noite dos Cristais não foi virtual, mas foi o linchamento real a judeus.
O objetivo de hoje foi tentar evitar que novas “noites dos cristais” aconteçam com outros povos e pessoas. pic.twitter.com/pXsPCiGZFy