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Notícias / Pablo Escobar

Como um crime de Pablo Escobar fez inocente passar 38 anos preso injustamente

Recentemente, faleceu Krishna Maharaj, um homem que passou 38 anos preso por um crime que não cometeu; entenda a relação com Pablo Escobar

O narcotraficante Pablo Escobar - Domínio Público
O narcotraficante Pablo Escobar - Domínio Público

Por 38 anos, o britânico Krishna Maharaj defendeu sua inocência perante os tribunais, a mídia e seus advogados. Durante todo esse período, ele permaneceu preso na Flórida, Estados Unidos, cumprindo uma sentença após ser condenado pelos assassinatos de dois homens em Miami, em 1986.

Embora um juiz tenha aceitado a prova de sua inocência, pois, o crime foi cometido por membros do Cartel de Medellín liderado por Pablo Escobar, Maharaj nunca conseguiu recuperar a liberdade.

Quando me condenaram à morte, porque foi a minha primeira sentença, desabei no chão do tribunal. Não conseguia acreditar que tinha sido condenado por um crime sobre o qual nada sabia e, claro, que nunca cometi.", disse ele à BBC durante uma entrevista de 2019. 

O advogado de Maharaj, Clive Stafford Smith, conseguiu transformar a sentença de morte em prisão perpétua e, eventualmente, obter uma decisão judicial afirmando que Maharaj não tinha nenhum envolvimento com o duplo assassinato pelo qual havia sido condenado. No entanto, ele nunca conseguiu libertá-lo da prisão.

“O tribunal disse que, embora houvesse provas convincentes que mostrassem a inocência de Maharaj, não eram suficientes para libertá-lo”, explicou Stafford ao The Guardian.

Assassinato

Em 16 de outubro de 1986, Derrick Moo Young, um cidadão jamaicano, e seu filho Duane foram encontrados mortos em um quarto do DuPont Plaza Hotel, em Miami, ambos com ferimentos de bala. A partir desse momento, uma investigação foi iniciada, levando à acusação de Kris Maharaj.

Ele, um britânico de origem indiana que havia acumulado riqueza com o comércio de importação de bananas, estava envolvido em uma disputa comercial com Moo Young. De acordo com informações da polícia, Maharaj teria marcado um encontro com Moo Young em um dos quartos do hotel. 

Uma vez no local, e conforme o depoimento de uma única testemunha, Maharaj teria atirado em Moo Young e em seu filho. O suposto motivo para o crime seria uma disputa sobre dinheiro que Moo Young teria roubado de alguns parentes do homem.

Após o incidente, Maharaj foi preso e acusado de duplo homicídio, sendo condenado à morte pelo crime em menos de um ano.

“Eu não estava lá. Pelo menos seis pessoas disseram que naquele dia eu estava em outro lugar, a mais de 30 km do hotel. Eu não conseguia acreditar que eles tinham me condenado”, afirmou Maharaj à BBC em 2019. “Eu sou inocente”.

Investigação

Durante seis anos, mesmo com as tentativas de provar sua inocência e evitar a pena de morte, a situação permaneceu inalterada. Até que em 1993, Stafford, advogado e ativista dos direitos humanos, decidiu assumir o caso.

Sua primeira ação foi apresentar um recurso para substituir a sentença de morte por prisão perpétua, o que ele conseguiu em 2002. Depois disso, a defesa concentrou seus esforços em demonstrar a inocência de Maharaj.

O crime aconteceu na década de 1980, durante o auge do tráfico de drogas em Miami, em meio a uma disputa encoberta entre os cartéis colombianos e os barões da droga cubanos pelo controle do comércio.

Stafford descobriu evidências de que Moo Young era um conhecido testa-de-ferro dos traficantes de drogas e que seu assassinato foi cometido por membros do cartel de Medellín. Ou seja, a ordem para o crime partiu de Pablo Escobar e foi executada por seus capangas.

Inocência

Durante anos, o advogado buscou a possibilidade de um novo julgamento para Maharaj, considerando todas as provas coletadas que indicavam a presença de outros suspeitos interessados em assassinar Moo Young, além dos seis depoimentos que confirmavam que o britânico estava distante do local dos crimes.

No entanto, todas as tentativas de clemência ou recursos eram sempre recusadas. “É patético que o governo federal [americano] se recuse a considerar as provas que poderiam libertar um homem inocente”, afirmou Stafford à BBC.

Em novembro de 2017, um ex-agente da DEA revelou ao tribunal que pessoas ligadas a Pablo Escobar se hospedaram em um dos quartos do DuPont Plaza Hotel no dia dos assassinatos.

Conforme o depoimento do ex-agente, Escobar ordenou a execução de Moo Young porque ele havia guardado dinheiro do cartel, que foi usado para lavagem de dinheiro. Com essas novas provas, o advogado conseguiu garantir, em 2019, que Maharaj tivesse uma audiência para revisar seu caso.

Contudo, no mesmo ano, ocorreram dois eventos paradoxais: primeiro, um juiz do Tribunal de Apelações do 11º Circuito dos EUA indicou que havia evidências que demonstravam a inocência de Maharaj.

No entanto, quando o caso foi levado ao Tribunal Federal de Apelações, a instância máxima para esse tipo de processo, foi determinado que “a decisão do juiz não foi suficiente para libertar” Maharaj.

Sua esposa, Marita Maharaj, que o visitou durante 38 anos, havia se mudado para o Reino Unido com a esperança de transferi-lo para uma prisão britânica. Contudo, em 5 de agosto, após várias complicações de saúde, Maharajfaleceu no hospital da prisão onde estava detido.

“Vejo esse como um dos meus maiores fracassos. A ideia de ele não sair da prisão, simplesmente não consigo compreender”, lamentou Stafford ao The Guardian.