O requerimento, feito em 2015, é assinado pela Associação Okinawa-Kenjin do Brasil e pelo produtor audiovisual Mario Jun Okuhara
Nesta quinta-feira, 25, a Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania analisará um pedido de reparação por repressão e perseguição política contra japoneses.
Se aprovado, o pedido incluirá um perdão formal do Estado, sem compensação monetária. O requerimento, feito em 2015, é assinado pela Associação Okinawa-Kenjin do Brasil e pelo produtor audiovisual Mario Jun Okuhara.
A gente acha que a história tem que ser contada da forma correta. Ano que vem vai fazer 130 anos do tratado de amizade entre Brasil e Japão e, para ser verdadeiro amigo, tem que ser baseado nos fatos verdadeiros. Não dá para esconder as coisas sujas embaixo do tapete", disse Eiki Shimabukuro, conselheiro da Okinawa-Kenjin, ao UOL.
Quando o Brasil declarou apoio aos Aliados na Segunda Guerra Mundial em 1942, imigrantes de países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) sofreram severas restrições, o que levou à criação da Shindo-Renmei ("Liga do Caminho dos Súditos"), uma organização de imigrantes japoneses que não acreditavam na derrota do Japão em 1945.
A radicalidade da Shindo-Renmei resultou na morte de 24 "derrotistas" entre 1946 e 1947. O governo brasileiro interveio, indiciando 390 pessoas ligadas à organização, que tinha cerca de 30 mil membros em São Paulo.
Para identificar os membros, o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) obrigou os imigrantes a realizarem demonstrações anti-patrióticas, como pisar na bandeira do Japão ou no retrato do imperador. Quem se recusava era preso.
Suspeitos de integrarem a organização, 171 japoneses foram enviados para um presídio de presos políticos na Ilha Anchieta, no litoral norte de São Paulo.
"Dos 170 presos, uns 130 eram inocentes", afirmou Tokuichi Hidaka, único sobrevivente dos 171 japoneses presos, em declaração ao documentário "Yami no Ichinichi - O Crime que abalou a Colônia Japonesa no Brasil", produzido por Mario Jun em 2011.
Os presos sofreram tortura e maus-tratos. Fukuo Ikeda, preso aos 20 anos, foi um dos que sofreu na ilha, segundo o UOL.
Não fez nada. Era inocente. Prenderam ele, depois, levaram ele para a Ilha Anchieta e apanhou muito. Já tinha a saúde ruim e foi torturado. Morreu moço, pelo que sofreu na ilha", disse Terezinha Fukuoka no requerimento de anistia.
Segundo a ficha do DOPS, Ikeda se suicidou em 1948, em um sanatório para onde foi levado após ser transferido da ilha.