Especialistas alertam que possível retorno de Cuba à lista dependerá de esforços futuros de Trump, responsável por incluir o país na relação em 2021
O governo Biden informou ao Congresso sua decisão de remover Cuba da lista de Estados patrocinadores do terrorismo, em um acordo que, segundo o governo cubano, inclui a libertação gradual de 553 presos políticos.
O anúncio foi feito cinco dias antes de Joe Biden deixar a presidência e Donald Trump assumir como o 47º presidente dos Estados Unidos. A negociação, mediada pela Igreja Católica, foi destacada por um alto funcionário do governo:
Concluímos uma avaliação e não encontramos informações que sustentem a designação de Cuba como patrocinador do terrorismo.”
O acordo prevê a liberação humanitária de um número significativo de presos políticos em Cuba. Autoridades da Igreja Católica desempenharam papel central no diálogo, que foi reconhecido pelo governo cubano.
Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores de Cuba elogiou a decisão dos EUA, descrevendo-a como "um passo na direção certa" que reflete uma demanda histórica de Cuba e de diversos governos, especialmente da América Latina e Caribe.
Ainda assim, o governo cubano destacou que o bloqueio econômico imposto pelos EUA permanece, causando grandes prejuízos econômicos e humanitários para a população da ilha.
Maykel González Vivero, jornalista cubano e ativista LGBTQ+, celebrou a libertação dos presos políticos, expressando esperança de que figuras como José Daniel Ferrer e os artistas Luis Manuel Otero Alcántara e Maykel “Osorbo” Castillo Pérez sejam beneficiados.
“Este é um grande dia para Cuba”, declarou ao The Guardian, mas também alertou sobre a incerteza de um possível retorno de Cuba à lista sob a administração Trump.
A designação de Cuba como patrocinador do terrorismo foi restabelecida por Trump em 2021, pouco antes de deixar o cargo, citando o suposto apoio cubano a atos de terrorismo internacional. Essa classificação, que impõe sanções severas, havia sido retirada em 2015 por Barack Obama.
A decisão de Biden pode ajudar a aliviar a crise humanitária na ilha, localizada a menos de 160 quilômetros da costa da Flórida. No entanto, legisladores republicanos criticaram a medida.
O senador Rick Scott, da Flórida, chamou a decisão de "imprudente e perigosa", prometendo trabalhar com Trump para revertê-la imediatamente após sua posse.
Apesar das críticas, líderes latino-americanos saudaram a decisão. O presidente colombiano, Gustavo Petro, classificou o gesto de Biden como um "grande avanço" rumo ao diálogo com a diversidade da América Latina.
No Brasil, o presidente Lulatambém defendeu a remoção de Cuba da lista em discursos anteriores, classificando a inclusão prévia como "injustificada".
O presidente do Chile, Gabriel Boric, igualmente apelou ao governo dos EUA, destacando que as sanções afetam principalmente o povo cubano, não seu governo. Durante uma visita aos EUA em 2023, Boric reiterou: “É vital suspender as sanções contra Cuba e reconhecer que ela não deve estar nessa lista.”
Enquanto isso, especialistas alertam que um possível retorno de Cuba à lista dependerá de esforços futuros da administração Trump, mas sua execução pode encontrar barreiras práticas e diplomáticas no caminho.
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