As espécies foram encontradas através da colaboração de cientistas com a população local
No mês passado, um artigo publicado na revista científica, PhytoKeys, divulgou a redescoberta de espécies de plantas que a comunidade botânica acreditava terem desaparecido. As amostras foram localizadas na região dos Andes, localizada entre sete países da América do Sul.
Com o auxílio de documentos fotográficos georreferenciados, disponibilizados em um site voltado para a descoberta de plantas raras, botânicos da Costa Rica, Equador, Alemanha e Peru se reuniram com amantes de plantas amadores e descobriram algumas espécies que estiveram esquecidas por mais 100 anos.
É importante ressaltar que catalogar uma planta compreende uma tarefa difícil, pois, muitas podem encontradas apenas em curtos períodos durante o ano. Logo, muitas espécies passam a ser consideradas como extintas, ou são simplesmente esquecidas.
Conforme repercutido pela Revista Galileu, as plantas redescobertas fazem parte do gênero Nasa, da família Loasaceae, e em razão de seus atributos urticantes, sua documentação é prejudicada. Sua raridade e endemismo também contribuem negativamente para a transferência para herbários comuns.
A falta de observações de plantas vivas e confirmação da ocorrência real de táxons dificulta o planejamento e a implementação de medidas de conservação efetivas. Redes científicas comunitárias recentemente fizeram grandes contribuições para documentar a biodiversidade em muitas regiões do mundo”, afirmaram os especialistas responsáveis pelo estudo.
Um projeto cientifico, chamado iNaturalist, trabalha para solucionar o problema. Em seu portal, pesquisadores, biólogos e naturalistas podem se conectar e trocar retratos dos organismos de maneira georreferenciada, o que permite a concentração dos dados em um só lugar.
Uma das espécies reencontrada foi a Nasa colanii, avistada pela última vez em 1978. A orientação para a descoberta do organismo foi um registro fotográfico de 2019, que levou os pesquisadores a uma floresta no Peru, especificamente no Santuário Nacional da Cordilheira de Colán.
Outra planta redescoberta foi a Nasa ferox, cujo último registro havia sido feito há 130 anos. Com o auxílio do iNaturalist, os colaboradores submeteram provas de sua existência em 2022, por meio de fotografias. A mesma foi localizada próximo da cidade de Cuenca, no Equador.
É particularmente surpreendente que a espécie não tenha sido relatada por tanto tempo, ainda mais se considerarmos as inúmeras expedições botânicas realizadas na área em geral”, esclareceram os pesquisadores no artigo.
A redescoberta mais surpreendente foi da Nasa humboldtiana, pois a mesma havia sido avistada pela última vez há 162 anos. Uma amostra foi encontrada em Chimborazo, no Equador.
O líder do estudo, Tilo Henning, que também atua no Centro Leibniz de Pesquisa de Paisagens Agrícolas, explicou em uma nota a importância desses achados:
Todas essas descobertas servem como um lembrete de que mesmo regiões bem estudadas abrigam uma diversidade que pode facilmente permanecer negligenciada e inexplorada, e apontam para o papel dos botânicos na documentação da biodiversidade. Isso é um pré requisito essencial para qualquer esforço de conservação", afirmou Henning.
Em razão da colaboração de cidadãos comuns e de especialistas em botânica, conectados mediante plataformas como a iNaturalist, espera-se que outras espécies esquecidas, ou até mesmo nunca encontradas, sejam avistadas.