Existem pontos fortes e fracos das três possibilidades promissoras estudadas na atualidade
Gosto sempre de dizer aos amigos que todos deveriam se preocupar em deixar um legado. Afinal, a vida perde muito do seu sentido quando não nos empenhamos em fazer a diferença de alguma forma (nem que seja por meio de um mérito apenas com finalidade de alimentar o próprio orgulho).
No meu ponto de vista, viver sem ser bem visto é aceitar morrer como indiferente. E mesmo com essa vontade de aproveitar o máximo da vida, e talvez, justamente por conta dela, me entristece imaginar que, em um dia incerto, a morte colocará fim a todos os meus esforços.
Por isso, sou um dos neurocientistas instigados em encontrar na inteligência artificial uma solução para sermos eternos. Mas o imortalizar por si só não basta. Esse processo tem que ser pensado e colocado em prática de maneira inteligente para que não traga consequências desastrosas.
Para alegria das pessoas que, assim como eu, são entusiastas da imortalidade humana, o sonho está cada vez mais próximo. Isso porque a neurociência está explorando a eficácia na transferência de mente, por meio de estudos recorrentes sobre a base física da memória.
A seguir, analisarei pontos fortes e fracos das três possibilidades mais promissoras estudadas na atualidade: a criogenia, o congelamento do cérebro e transporte de memórias humanas para a máquina.
No caso da criogenia, o sangue é drenado do corpo e substituído por um líquido crioprotetor.
A substância é usada para proteger o tecido biológico de danos de congelamento, como cristais de gelo que causam danos irreparáveis nas células do organismo. Depois, o cadáver é submetido a temperaturas inferiores a -150º C e armazenado em um tanque de nitrogênio líquido onde permanece de cabeça para baixo, como precaução para o cérebro não sofrer danos caso haja vazamento no reservatório.
A criogenia já é utilizada, com sucesso, na preservação de embriões e órgãos humanos. Mas no caso da imortalidade, quando temos os engramas de memórias de toda nossa vida já formatados em nossos neurônios, o processo teria que se iniciar enquanto o humano à ser imortalizado ainda está vivo, constituindo, portanto, o primeiro empecilho da técnica, já que essa ação não é permitido na maioria dos países do mundo.
O outro fator que dificulta a criogenia é a necessidade de monitoramento para saber quando o indivíduo vai morrer, já que após a morte não há como recuperar as memórias. O ideal é que uma equipe esteja presente durante a fase final da vida para iniciar o processo logo após a morte.
É preciso pressa, pois, sem oxigenação as células neurológicas não duram mais do que cinco minutos. A última dificuldade envolvendo a criogenia está em saber o momento certo de reativar o cérebro, como descongelá-lo sem danificar sua estrutura. As chances do ser ficar desconectado com disfunção neuronal após sua volta é demasiadamente grande.
Ou seja, atualmente conseguimos preservar, mas ainda não é possível reavivar uma pessoa.
A cópia do DNA é uma técnica ainda mais complexa estudada para atingir a imortalidade. Sem delongas, aponto que seu principal impedimento está na limitação de memórias.
Com ela, pode-se ter o indício de personalidade, mas não o seu molde. Não haveria como ter acesso às memórias amplas de toda uma vida. Uma vida sem memória não é uma vida sequencial.
Portanto, podemos dizer que sem conseguir preservar o recurso de memória, se trataria de um novo indivíduo ao invés de um indivíduo imortalizado. No máximo, uma imortalidade parcial, já que muitos aspectos se perderão no processo.
Aqui, a imortalidade se daria por uma técnica que diz respeito a noção de upload da sua consciência e memórias para um computador. Em resumo, significa que uma pessoa poderia transformar sua personalidade, memória e essência em dados de computador.
A ideia é muito interessante, fazer um upload de toda a sua memória e, bingo! Está de volta no futuro. Mas não é tão simples assim. Precisamos entender que nossa personalidade é a consequência de todo um molde de memória, genética, cultura, experiências sensoriais, clima e N fatores que nos fazem ser quem somos. Trata-se de fenômenos microscópicos e quânticos.
A subjetividade que releva a mente, memórias emocionais, é o maior desafio na inteligência artificial. Cada detalhe da vida, cada pingo de chuva que cai na sua testa, transcreve reações que ficam armazenadas derivadas dos sentidos e se os sentidos não forem os mesmos, não será igual, ou seja, não é você.
De que adianta trazer nossas memórias de volta se não sentirmos a emoção de tê-las?
Fabiano de Abreu Rodrigues é um jornalista com Mestrado e Doutorado em Ciências da Saúde nas áreas de Neurociências e Psicologia pela universidade EBWU nos Estados Unidos e na Université Libre des Sciences de l'Homme de Paris. Ainda na área da neurociência, pós-graduação na Universidade Faveni do Brasil em neurociência da aprendizagem cognitiva e neurolinguística e Especialização em propriedade elétricas dos neurônios e regiões cerebrais na Universidade de Harvard nos Estados Unidos. Pós-Graduação em Neuropsicologia pela Cognos de Portugal, Mestre em Psicanálise pelo Instituto e Faculdade Gaio, membro da Unesco e Neuropsicanalista pela Sociedade Brasileira de Psicanálise Clínica. Especialização em Nutrição Clínica e Riscos Psicossociais pela TrainingHouse de Portugal e Filosofia na Universidade de Madrid e Carlos III na Espanha.
Integrante da SPN - Sociedade Portuguesa de Neurociências – 814, da SBNEC - Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento – 6028488 e da FENS - Federation of European Neuroscience Societies - PT30079 e membro da Mensa, sociedade de pessoas de alto QI com sede na Inglaterra.
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