Austríaco falecido em 2020 deixou herança para vilarejo que o acolheu quando foi perseguido pelos nazistas e no qual viveu por décadas até sua morte
Publicado em 10/12/2023, às 17h00 - Atualizado em 11/12/2023, às 18h40
Décadas após ter sido acolhido com sua família durante a Segunda Guerra Mundial em Le Chambon-sur-Lignon, um ex-refugiado austríaco deixou uma herança generosa para o vilarejo francês em 2021. Eric Schwam, que faleceu em dezembro de 2020 aos 90 anos, encontrou refúgio ao chegar no pequeno povoado em 1943.
Embora Jean-Michel Eyraud, o prefeito da cidade, tenha mencionado que Schwam deixou uma "grande quantia" para Le Chambon-sur-Lignon em seu testamento, os valores não foram confirmados.
Mas, o antigo prefeito, em declarações à mídia local, indicou que Schwam havia discutido o assunto com as autoridades alguns anos antes, estimando a herança em cerca de 2 milhões de euros (R$ 13,3 milhões).
Conforme declaração dada por Eyraud à AFP, a fortuna deixada por Schwam seria direcionada para iniciativas educacionais voltadas à juventude.
De acordo com o portal BBC News, Denise Vallat, secretária de cultura e comunicação em Le Chambon-sur-Lignon, informou que a cidade foi contatada em janeiro do ano seguinte para tratar da doação.
Ela destacou a discrição de Schwam, descrevendo-o como um "cavalheiro" que evitava publicidade sobre seu gesto. Apesar de pouco se saber sobre ele, as autoridades locais realizaram pesquisas para aprender mais sobre o benfeitor.
Descobriu-se, por meio dessas pesquisas, que a família de Schwam tinha suas raízes em Viena, onde seu pai exercia a profissão de médico.
No entanto, durante a guerra, eles acabaram detidos pelos nazistas no campo de Rivesaltes, uma instalação militar no sul da França utilizada para aprisionar civis. No ano de 1942, mais de 2.000 pessoas foram transferidas de Rivesaltes para o campo de concentração de Auschwitz, onde foram cruelmente assassinadas.
No entanto, a família conseguiu escapar, e em 1943, Eric Schwam chegou a Le Chambon-sur-Lignon com seus pais e a avó. Mas, o meio pelo qual a família de refugiados chegou à cidade permanece desconhecido.
Registros indicam que, após a guerra, os pais de Schwam retornaram à Áustria, mas ele optou por se mudar para Lyon em 1950 a fim de estudar Farmácia. Foi lá que ele conheceu sua futura esposa, com quem se casou, e residiu até seu falecimento. Relatos da mídia local indicam que o casal não teve filhos, e que a esposa faleceu antes de Eric.
O vilarejo de Le Chambon-sur-Lignon, com uma população de quase 2.500 habitantes, é reconhecido por ser um refúgio para pessoas perseguidas desde o século 17. Naquela época, protestantes huguenotes franceses, fugindo da perseguição religiosa, estabeleceram-se na cidade.
Mais tarde, durante a Segunda Guerra Mundial, um pastor e sua esposa lideraram esforços para proteger refugiados judeus da ocupação nazista, bem como dos colaboradores franceses do nazismo na cidade de Vichy.
A notícia sobre essas ações disseminou-se por meio de grupos de direitos humanos, de modo que a vila foi transformada em um epicentro do movimento de resistência, com seus habitantes acolhendo e escondendo os refugiados.
Mais tarde, Israel prestou homenagem à cidade de Le Chambon-sur-Lignon em reconhecimento às ações extraordinárias de sua população durante esse período.