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Coronavírus / Brasil

Aos quase 100 anos, anciã indígena morre com sintomas de Covid-19

Weitãg Suruí assistiu de perto o avanço da doença em sua aldeia e chegou a perder um filho na primeira onda da pandemia

Pamela Malva Publicado em 06/01/2021, às 10h00

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Foto de Weitãg Suruí preparando artesanato - Divulgação/Ubiratan Suruí
Foto de Weitãg Suruí preparando artesanato - Divulgação/Ubiratan Suruí

Perto de completar 100 anos de idade, Weitãg Suruí, a anciã do povo paiter-suruí, assistiu de perto quando sua etnia foi dizimada por doenças trazidas pelo branco, em meados de 1969. No sábado, dia 02, ela faleceu com sintomas de Coronavírus, segundo a Folha.

Considerada uma importante liderança por seu povo, Weitãg morava na Terra Indígena Sete de Setembro, em uma zona entre Mato Grosso e Rondônia. Com sete filhos, 63 netos e 55 bisnetos, a anciã não foi testada para o Covid-19 em vida, mas acompanhou o avanço da doença em sua aldeia — que, agora, enfrenta uma segunda onda.

Logo nos primeiros momentos da pandemia, Weitãg sentiu a dor da perda de Renato, um de seus filhos, vítima do Covid-19. “Para nós, a minha avó é uma pessoa de conhecimento. Não somente na área de ervas tradicionais, ela também nos aconselhava”, afirmou Rubens Suruí, neto da anciã.

Weitãg colocando colar de proteção em parente / Crédito: Divulgação/Txai Suruí

Essa não foi a primeira vez, no entanto, que Weitãg Suruí teve de lidar com doenças alarmantes. Em 1970, durante a Ditadura Militar, o povo da anciã entrou em contato com diversas doenças trazidas pelos brancos, que foram trabalhar na construção da BR-364.

Com a chegada de colonos e madeireiros, grande parte da aldeia dos paiter-suruí foi dizimada pelas novas enfermidades — assim, centenas de indígenas foram vítimas do sarampo. Na época, Weitãg perdeu um tio e um irmão para as doenças inusitadas.

Sem nunca ter aprendido o português, a anciã converteu-se ao catolicismo e obteve sua primeira identidade — que registrou seu nascimento em dezembro de 1922. Responsável por transmitir o conhecimento da medicina tradicional aos seus descendentes, Weitãg “foi uma pessoa sensacional”, como explicou seu neto.