Estudo publicado em 2017 analisou cenários insólitos de Wharram Percy, no norte da Inglaterra
Wharram Percy foi um vilarejo próspero durante a Idade Média. Localizada no norte da Inglaterra, entre as cidades de Malton e Driffield, em East Yorkshire, a antiga comunidade foi construída sobre a criação de ovelhas.
No entanto, com a Peste Negra, acabou entrando em declínio e seu abandono total foi observado a partir do século 16. No século 20, o local chegou a ser até mesmo escavado por arqueólogos curiosos, mas sem muitas descobertas notáveis.
Isso mudou em 2017, quando pesquisadores da Historic England, órgão do governo britânico, e da Universidade de Southampton decidiram investigar mais a fundo as ruínas da vila medieval e examinaram restos mortais descobertos no local.
O estudo investigou 137 ossos de cerca de dez pessoas que viviam no local e morreram entre os séculos 11 e 14.
De acordo com os pesquisadores, eles foram queimados, desmembrados e até mesmo decapitados antes de serem enterrados, em uma prática assustadora que apontava um cenário inusitado: o medo de “zumbis” na antiga comunidade da Idade Média.
Foram identificadas marcas de faca nos 137 ossos descobertos em Wharram Percy, principalmente na área da cabeça e pescoço. No entanto, os pesquisadores não acreditam que eles foram canibalizados por habitantes da região.
Isso porque os pesquisadores não encontraram evidências de cortes perto de articulações musculares ou grandes articulações, que mostrariam que os aldeões estavam cortando as regiões do corpo para a alimentação.
Alguns dos ferimentos foram localizados em outras partes do corpo, como queimaduras em lugares variados e quebras deliberadas de alguns ossos depois do indivíduo já ter falecido e antes de ser enterrado.
A principal sugestão dos arqueólogos é que os corpos foram mutilados e queimados para que os indivíduos não ressuscitassem, ou seja, não se tornassem o conceito que temos atualmente como 'zumbis'.
"A ideia de que os ossos de Wharram Percy são os restos de cadáveres queimados e desmembrados para impedi-los de sair de seus túmulos parece se encaixar melhor nas evidências”, afirmou Simon Mays, biólogo especialista em sistema esquelético humano.
“Se estivermos certos, então esta é a primeira boa evidência arqueológica que temos para essa prática”, completou.
Segundo o pesquisador da Historic England, "isso nos mostra um lado das crenças medievais e fornece um lembrete gráfico de como a visão medieval do mundo era diferente da nossa”.
Ao danificar os esqueletos dos mortos, os aldeões estariam impedindo que os "cadáveres saíssem de seus túmulos, espalhando doenças e agredindo os vivos", escreveram os cientistas no artigo.
Um detalhe importante destacado pelos especialistas é que os mortos não eram estranhos: eles cresceram perto de onde foram enterrados. A conclusão foi obtida por meio de um exame realizado nos dentes dos esqueletos descobertos no vilarejo.
Mays explicou que “os isótopos de estrôncio refletem a geologia do lugar onde uma pessoa viveu quando se formaram os seus dentes na infância, o que permitiu determinar que esses corpos cresceram na mesma região onde foram enterrados”, segundo o El País.
O estudo completo foi publicado na revista científica internacional Journal of Archaeological Science Reports.