Criada pelo renomado pintor Rafael, a tela é repleta de referências e, com classe, reúne alguns dos maiores nomes do Renascimento
Entre as obras mais famosas do Renascimento, 'A Escola de Atenas', de Rafael, está lado a lado com a 'Mona Lisa' e o teto da Capela Sistina como uma das mais reconhecidas. Mas, talvez, nenhuma outra represente tão bem o período quanto ela — é um retrato de filósofos pagãos da Antiguidade encomendado para decorar a casa de um papa.
E Renascimento, como o nome indica, era trazer de volta, num contexto certamente cristão, a técnica e a sabedoria perdidas dos antigos. A Escola é só um dos muitos afrescos pelos quais o então jovem pintor Rafael foi comissionado pelo papa Júlio II para decorar seus aposentos. Ele fica na Stanza della Segnatura, uma sala destinada a mostrar todos os ramos do conhecimento, dos quais a filosofia é apenas um — os demais são teologia, direito e poesia, em outros afrescos do mesmo artista.
Rafael usou rostos familiares para representar os grandes filósofos da Antiguidade: entre as figuras mais reconhecidas, Leonardo da Vinci aparece duas vezes, representando Platão e Parmênides. Michelangelo, que faria a Capela Sistina, interpreta Heráclito de Éfeso, e Donatello é retratado como Plotino.
Uma figura destoa entre todos os grandes nomes da Antiguidade Clássica. É o islâmico Averróis, que viveu no século 12 e teve suas obras traduzidas por toda a Europa. Entre muitas outras coisas, ele foi o responsável pelo ressurgimento do interesse por Aristóteles na filosofia ocidental.
Platão e Aristóteles, levando uma cópia de seus livros ('Timeu' e 'Ética') a Nicômaco, representam as duas grandes tendências da filosofia ocidental: idealismo e materialismo. Isso aparece em Platão, descalço, apontando para o céu, onde estão as ideias puras. Aristóteles, de sandálias, mostra a Terra, a ser estudada cientificamente.
A mulher no centro da imagem é uma personificação do amor — na forma de Margarita Luti, musa e amante de Rafael. Ao lado dela, que não parece muito interessada, está o pré-socrático Parmênides, numa segunda aparição de Leonardo da Vinci. Bem no meio, Heráclito de Éfeso, representado por Michelângelo.
Euclides, ou talvez Arquimedes, ensina geometria, na figura do arquiteto Donato Bramante, amigo de Rafael, que projetou a Basílica de São Pedro — já em construção, ainda levaria mais de 100 anos para ser concluída. Os arcos e todo o resto da estrutura onde os filósofos são retratados são inspirados nos planos de Bramante.
Olhando para o espectador está o próprio Rafael, não encarnado como filósofo, mas como o pintor Apeles, do qual sobreviveram alguns afrescos em ruínas romanas. Isso o tornou uma das grandes inspirações para a Renascença. Visivelmente jovem, Rafael tinha menos de 30 anos quando começou o afresco.