'Vencendo a Morte – Como as Guerras Fizeram a Medicina Evoluir', do médico J. M. Orlando, revela como a medicina se moldou a partir de conflitos
Peste bubônica, escorbuto, tifo, malária, disenteria, varíola, gripe… São alguns males propagados pelas guerras mundo afora. Um “laboratório” onde as vidas precisavam ser salvas, e o meio para isso tinha que ser descoberto, embora no momento não fosse a prioridade.
Para os médicos, a realidade imediata era estancar hemorragias, amputar membros, lidar com infecções em meio a aparatos limitados e em uma sociedade entrando em desespero. Esse é o cenário extensamente descrito pelo livro Vencendo a Morte – Como as Guerras Fizeram a Medicina Evoluir, do médico J. M. Orlando.
O autor faz um vai e vem na história de diversos países para apresentar situações em que a guerra era vista até como forma de controle populacional, ou como, no entendimento de Freud, a vazão do desejo humano de agressão e destruição. A tese do escritor é de que o retrocesso gerou progresso.
Como exemplos, traz a “ambulância voadora” nas Guerras Napoleônicas; a descoberta do bacilo causador da tuberculose na Guerra Franco-Prussiana; as intervenções cirúrgicas na Guerra Civil Espanhola; o suprimento de oxigênio para os aeronautas na Primeira Guerra Mundial; a triagem dos feridos na Segunda Guerra; a criação de corporações médicas na Guerra de Independência dos Estados Unidos; as medidas de ressuscitação na Guerra da Coreia; o “herói” chamado “bolor verde”, que salvou milhões de vidas.
Em geral, este livro é a história detalhada dos inúmeros benefícios que acabaram saindo dos campos de batalha para os hospitais civis.
As consequências para o funcionamento do organismo eram devastadoras.
O sangramento agudo e intenso resultante dos ferimentos de batalha era, na maioria das vezes, fatal. A morte arrebatava a vida dos soldados em questão de minutos. Alguns poderiam até resistir por horas ou dias, mas ao final o império da morte impunha-se sempre absoluto, reivindicando seu butim de vítimas indefesas prostradas diante de médicos impotentes e atônitos.
Esse cenário repetiu-se incontáveis vezes ao longo dos séculos. A par de materializar o que poderia ser interpretado até mesmo com um ato de pretensa coragem do guerreiro (ainda que, em geral, destituído de qualquer resultado prático efetivo), deixava transparecer, como pano de fundo, uma realidade aparentemente imutável que se repetia impassível ao sabor de sempre soberano destino.