Militares contrarrevolucionários e civis: muitas pessoas abandonaram seu país natal e vieram ao Brasil por medo das consequências do comunismo bolchevique
A história dos imigrantes russos no país latino-americano começou quando muitos contrarrevolucionários deixaram a Rússia durante ou após a maior revolução que já haviam enfrentado.
Em 1917, iniciou-se um período de conflitos que derrubou a monarquia russa e instaurou um regime soviético governado pelo Partido Bolchevique. Entre as décadas de 1920 e 1930, o confronto fez com que inúmeros militares e civis fugissem do país em busca de uma vida melhor.
Anatóli Chnee fazia parte do Exército Branco, grupo militar formado por contrarrevolucionários. Ele recebeu ordens que, caso perdessem para o Exército Vermelho, todas as embarcações militares em seu domínio fossem para o porto de Sebastopol, na Crimeia, e de lá para outros lugares em que pudessem recomeçar.
"Meu pai teve três irmãos. Todos eles foram fuzilados por ordem de Josef Stalin. Se não tivesse fugido da Rússia, em 1921, teria tido o mesmo fim", comenta Igor Chnee, filho do militar mencionado e autor do livro Imigrantes Russos no Brasil, em entrevista à BBC. Muitos escaparam do país por medo de sofrer com as ações ordenadas por Stalin.
Victor Gers Júnior, presidente da Associação Russo Brasileira (ARB) comentou sobre a mesma situação. Segundo ele, os oficiais deixaram o país após a derrota. "Depois de derrotado pelo Exército Vermelho de Vladimir Lênin, o Exército Branco fugiu para diversos países, como Bulgária, França e Alemanha. Na ocasião, aproximadamente 200 imigrantes russos, vindos em dois navios, Provence e Aquitaine, desembarcaram no porto de Santos", narra.
Mas, para além dos que estavam na linha de frente, alguns civis também fizeram o mesmo. Tamara Kalinin, filha de imigrantes russos e professora, conta que seus pais tiveram dificuldades ao chegar no Brasil. "A adaptação deles foi difícil. Meu pai trabalhava como mecânico e minha mãe, costureira. Os dois custaram a arranjar emprego".
O Brasil conta com cerca de 1,8 milhão de descendentes de imigrantes e refugiados russos. A maioria dessas pessoas está nos estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, Goiás e Paraná, e, com números menores, no Rio de Janeiro, Santa Catarina e Pernambuco.