Explosão poderia ter sido um espetacular tiro no pé para os católicos
Poucos livros contam, mas em 5 de novembro de 1605 a elite política inglesa podia ter ido pelos ares: rei, rainha, deputados e boa parte da corte não ficaria para contar a história. Mas o que de fato aconteceu?
Em julho daquele ano, um grupo de conspiradores chefiado por Robert Catesby (líder de uma comunidade de católicos fervorosos perseguida pela rainha Elisabeth I), colocou 36 barris de pólvora – 2,5 toneladas no total – no porão do Palácio de Westminster, sede do Parlamento. O plano era detonar tudo em 3 de outubro, quando rei, comuns (deputados) e lordes (espécie de conselheiros) estariam todos reunidos.
Teria dado certo se não fosse a peste bubônica. Ao se constatar vestígios dela em Londres, os parlamentares adiaram o encontro para 5 de novembro, tempo suficiente para a notícia da conspiração vazar. Na noite do dia 4, um dos conspiradores, Guy Fawkes, foi preso quando inspecionava a carga.
Sob tortura, ele delatou os companheiros. Meses depois, oito integrantes do grupo foram executados, inclusive Fawkes, que passou à história equivocadamente como líder do movimento. Mas, e se a abertura do Parlamento não fosse adiada?
A conseqüência direta seria a devastação do palácio e imediações. Em um estudo do começo dos anos 2000, físicos da Universidade do País de Gales concluíram que, pela quantidade de pólvora armazenada, os prédios situados num raio de 490 metros seriam destruídos. Isso significa que o centro de Londres viraria pó.
“O rei James I, a rainha e o Parlamento teriam ido pelos ares, deixando o caminho livre para um golpe dos conspiradores”, diz Ronald Hutton, professor da Universidade de Bristol.
Mas, segundo Modesto Florenzano, professor de história da Universidade de São Paulo, a possibilidade de um golpe católico naquele momento era praticamente nula, já que imperava um forte sentimento antipapista entre a maioria da população. “A reação mais provável seria uma perseguição ainda maior à comunidade católica”, afirma.
Nesse caso, pode-se imaginar duas conseqüências. Primeira, o herdeiro Charles I se aproveitaria da caça às bruxas e ganharia o apoio popular, de modo semelhante a George W. Bush, após os atentados de 11 de setembro. “Assim, seu reinado teria suporte da população e dos parlamentares, apesar da dificuldade financeira, e a Guerra Civil (instaurada em 1641) não ocorreria”, afirma Ronald Hutton.
Outra conseqüência seria a fuga de católicos para a Irlanda e para a América, onde puritanos começavam a se instalar, justamente fugindo da perseguição da Coroa. Isso significaria, em longo prazo, um rumo diferente para a colonização americana, influenciada ideologia puritana.