Encontrado há anos, o local foi alvo de um inusitado estudo em 2021 — pesquisa essa que colocou em xeque muito daquilo que os arqueólogos pensavam saber sobre a enorme gruta
Ingredi Brunato, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 26/09/2021, às 10h00 - Atualizado em 21/04/2022, às 10h00
Ao analisarem uma grande caverna de rochas de arenito localizada na porção sul do Reino Unido, arqueólogos britânicos imaginaram estar observando pedras esculpidas durante o século 18. Publicado em julho de 2021, contudo, um novo estudo revelou que a construção é bem mais antiga do os especialistas acreditavam.
Acontece que, de acordo com a Revista Galileu, antes que as recentes pesquisas fossem realizadas, cientistas britânicos acreditavam que a gruta teria servido como moradia para os habitantes da região em meados do século 18.
Divulgado pelo periódico científico “Proceedings of the University of Bristol Speleological Society”, contudo, o estudo concluiu que as cavidades, na verdade, pertencem a um período completamente diferente: o do início da Idade Média.
O local é também mais especial do que inicialmente julgado: isso pois as cavernas foram possivelmente habitadas por um rei, de acordo com as estimativas dos pesquisadores, que foram capazes de reconstruir a planta original do lugar através do uso de drones e análises arquitetônicas em geral. O lugar era constituído de três cômodos e uma capela.
Foi nesse momento então que eles puderam perceber que as técnicas de edificação usadas na estrutura se assemelhavam às da arquitetura saxônica, um estilo presente na Inglaterra no início da época medieval.
Isso torna [a construção] provavelmente o interior doméstico intacto mais antigo do Reino Unido — com portas, piso, telhado, janelas, etc. — e, tem mais, pode muito bem ter sido habitado por um rei que se tornou um santo!”, afirmou o autor do estudo, Edmund Simons, através de um comunicado publicado no site da instituição “Wessex Archaeology”, ainda conforme a Galileu.
As pistas apontando para qual membro da realeza habitou a caverna vieram de um livro do século 16. Segundo registrado pela obra histórica, um eremita chamado de SantoHardulph vivia no penhasco próximo ao rio Trento — a mesma região onde ficam as grutas analisadas.
Antes de adotar aquele estilo de vida em isolamento, todavia, o homem teria sido o rei Eardwulf, o governante do reino da Nortúmbria, que hoje é parte do território britânico, entre os anos de 796 d.C e 806 d.C.
Seu domínio acabou quando ele foi deposto e condenado ao exílio. Também segundo o estudo, não era incomum que soberanos medievais adotassem uma existência voltada para a religião após terem sido retirados de seus tronos ou escolhido sair deles por conta própria. Alguns conseguiam alcançar até mesmo a canonização como santos.
As semelhanças arquitetônicas com os edifícios saxões e a associação documentada com Rei Eardwulf / Santo Hardulph mostram que essas cavernas foram construídas, ou ampliadas, para abrigar o rei exilado”, contou Edmund.
Mark Horton, um professor de arqueologia da mesma universidade inglesa dos pesquisadores envolvidos no estudo, fez um comentário a respeito daquela descoberta tardia a respeito da verdadeira função de uma construção histórica:
“É extraordinário que edifícios domésticos com mais de 1200 anos sobrevivam à vista de todos, não reconhecidos por historiadores, antiquários e arqueólogos. Estamos confiantes de que outros exemplos ainda serão descobertos para dar uma perspectiva única sobre a Inglaterra anglo-saxônica”, observou o especialista.