Yoko Ono foi responsável pelo fim dos Beatles? George Harrison odiava Paul McCartney? Get Back desmistifica bastidores de uma das maiores bandas de todos os tempos
Publicado em 28/05/2023, às 00h00 - Atualizado em 29/05/2023, às 19h31
Produzida e dirigida por Peter Jackson, a série documental The Beatles: Get Back cobre a produção do último álbum dos Beatles, Let It Be — que tinha o título provisório de Get Back —, lançado em 1970.
A produção, disponível no serviço de streaming Disney Plus, utiliza grande parte do material não aproveitado por Michael Lindsay-Hogg, que lançou o documentário Let It Be após o anúncio do término da banda.
Dividido em três episódios, Get Back apresenta quase oito horas de material, mostrando não só os bastidores da banda de maior sucesso comercial na história da música popular como também serve para quebrar — ou sustentar — alguns pontos que se tornaram mitos na história dos Beatles.
Após o término dos Beatles, muitos fãs apaixonados pelos meninos de Liverpool passaram a culpar Yoko Ono pelo fim da banda. Para eles, a suposta intervenção da companheira de John Lennon teria sido um dos grandes motivos para a separação.
O convívio dos músicos teria sido dificultado após a chegada de Yoko? Afinal, Lennon fazia questão que sua parceira o acompanhasse durante os ensaios e gravações da banda, principalmente a partir do Álbum Branco, de 1968.
Em Get Back, Paul McCartney até chega a reconhecer que Lennon não hesitaria em escolher a amada em detrimento dos Beatles: "Imagine que daqui a 50 anos as pessoas falassem que os Beatles acabaram porque a Yoko sentou em um amplificador", ironiza Paul.
Embora os Paul, Ringo e George não tenham ficado totalmente confortáveis com a presença de Yoko no estúdio, Get Back mostra que o trio, aos poucos, se acostumou com companhia da artista plástica.
O documentário, aliás, mostra Ono sempre tranquila sentada ao lado de John. Em muitas ocasiões, ela nem sequer presta atenção no que o grupo está fazendo. Cenas ainda registram Yoko Ono conversando com as pessoas lá presentes e também participando de momentos de descontração com os outros integrantes da banda — o que ajuda a quebrar esse falso mito.
O fim dos Beatles se deu muito mais por conta das tensões da convivência do quarteto do que devido a influências externas.
John, aos poucos, foi caindo na mesmice da rotina com seus companheiros de banda. Perdendo o interesse por tudo aquilo. Entretanto, o fundador dos Beatles sabia que o grupo de maior sucesso comercial na história da música popular era sua fonte de renda.
Até o início de 1969, Lennon não havia cogitado deixar os Beatles. Embora o fato não seja mostrado em Get Back, porém, uma matéria da CNN recorda que o momento coincide com o período em quem John começa a usar heroína. O uso da droga o tornou mais alheio ao restante da banda.
Lennon passou a ser o integrante que chegava mais tarde nas gravações e também o mais distraído entre eles. O compositor chegou a cogitar abandonar os Beatles no fim de 1969, às vésperas do lançamento de Abbey Road. No entanto, acaba sendo desencorajado por Paul McCartney.
O empresário Brian Epstein foi responsável por ajudar os Beatles a se tornarem um fenômeno. No entanto, sua morte precoce, aos 32 anos, em 27 de agosto de 1967, mexeu com as estruturas da banda. Afinal, Brian não era apenas o empresário, ele agia também como conselheiro, era tratado como um irmão mais velho de John, Paul, Ringo e George.
Com a perda do visionário do showbusiness, alguém precisava tomar as rédeas da situação. Como mostrado em Get Back, foi a partir dali que Paul tentou se impor como líder dos Beatles. Foi dele, aliás, a ideia de fazer um álbum conceitual como se o quarteto fosse outro grupo — algo concretizado em Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band.
Por outro lado, John Lennon já era um líder natural por ser o fundador da banda. Paul também sentia a necessidade de se provar constantemente para Lennon. Get Back, porém, evidencia todo o pragmatismo profissional do baixista — responsável por ser o que mais estimula a participação dos outros integrante; por se aquele que puxa novas canções ou até mesmo insiste em projetos.
O documentário mostra detalhes da relação entre Paul e John, evidenciando que existia um respeito mútuo entre eles. O fundador dos Beatles, aliás, o respeitava tanto que entendia sua função e tinha ciência de não ser o único líder entre eles. Os Beatles eram ‘comandados’ pelos dois.
"Eu toco o que você quiser e se você quiser eu não toco". A frase dita por George Harrison a Paul McCartney no documentário Let It Be, de 1970, deixou um certo clima de animosidade entre os integrantes da banda. O corte original levantou o questionamento de se o guitarrista realmente não gostava do baixista.
+ George Harrison teria afirmado que Paul McCartney o arruinou na época dos Beatles
Mas Get Back surgiu para quebrar esse mito. A versão estendida do momento mostra que, após o desentendimento, a dupla continuou a trabalhar como um dia qualquer. Que a discussão foi algo apenas de momento e não parte de um clima insustentável.
É bem verdade, porém, que George já sentia o clima meio desgastado na banda. Embora vivesse uma fase de compor bastante, sua cota por discos dos Beatles era de apenas duas canções. Ringo deixou a banda antes dele, mas sua saída foi mais sentida.
Harrison também não gostava da forma que o baixista impunha suas ideias; Ringo também se incomodava com isso, mas o fato jamais o fez perder a admiração por Paul. George, inclusive, acatava várias destas sugestões dadas por McCartney.
Lançado em maio de 1970, junto de um álbum homônimo, Let It Be é o quinto filme feito pelos Beatles. O documentário, que conta com a direção de Michael Lindsay-Hogg, ficou marcado por ser o período em que o grupo chega ao fim.
Em Get Back, é exposto que Lindsay-Hogg registrou as imagens com a intenção de ser a pessoa responsável por filmar o fim de uma das maiores bandas de todos os tempos. Tudo por conta do clima que já pairava entre os integrantes.
Oficialmente, os Beatles anunciaram seu fim em 10 de abril de 1970, mais de um ano após as gravações. Mas o documentário só foi lançado após o anúncio. Apesar da animosidade entre os integrantes, Michael distorceu algumas cenas para deixar a entender que foram naquelas gravações que os meninos de Liverpool se separaram.
Um fato curioso, entretanto, é que Michael Lindsay-Hogg foi responsável por gravar o momento em que Paul McCartney percebe e se conforma com o futuro fim da banda. O baixista é registrando com os olhos cheio de lágrimas ao notar que, após a saída de Harrison, Lennon também não aparece no estúdio de gravações. A emblemática imagem, no entanto, ficou fora do corte original e só foi mostrada em Get Back.