Cleópatra e César provavelmente conheceram autômatos na infância
Júlio César pode ter visto robôs em sua infância. Cleópatra quase certamente era dona de alguns. A invenção já tinha no mínimo quatro séculos quando eles nasceram.
Alguém agora aqui vai corrigir:“robô, não: autômato”. Mas autômato pode muito bem ser sinônimo para “robô velho”. A palavra “robô” só foi surgir em 1921. Veio da peça Rossumovi Univerzální Roboti, do tcheco Karel Capek. Nela, os roboti (do tcheco rabota, trabalho escravo) eram biológicos e se revoltavam. Com o sucesso da peça, o termo passou para a ficção científica, para humanos artificiais imaginários que nada tinham a ver com os robôs de Capek. Autômatos – ou robôs – elétricos já existiam então.
A palavra “robótica” foi cunhada pelo escritor Isaac Asimov em 1948. O primeiro robô industrial e computadorizado estreou em 1961, o Unimation, na fábrica da GM em Detroit. Não era mais inteligente que uma calculadora, seguindo um programa estrito. Hoje, a inteligência dos robôs não vai muito além da de um telefone celular – se vai. Afinal, aspiradores de pó também são chamados de “robôs”. Robô mesmo, um humano artificial completo, continua a ser figura da imaginação.
Uma figura bem velha, aliás. Já estava na mitologia grega. Hefesto, o deus das forjas, era um exímio construtor de robôs. Talos, uma máquina humanoide gigante de bronze, patrulhava a Ilha de Creta para pro proteger a deusa Europa. Foi destruído pela feiticeira Medeia, que o convenceu a tirar uma unha – soltando todo o seu fluido interno.
Talos representado em um vaso grego / Wikimedia Commons
Robôs tão avançados assim eram do domínio dos mitos – como ainda são. Mas esses mitos tinham um pé na realidade, particularmente no Egito ptolomaico, sede da Grande Biblioteca e o lugar mais hi-tech do mundo antigo. No século 3 a.C., o engenheiro Ctesíbio de Alexandria inventou os primeiros relógios cuco. Trezentos anos depois, seu conterrâneo Heron criou uma nova atração: teatros automáticos, que tocavam música e tinham miniaturas humanas animais que se moviam, jorravam água e vinho e seguiam um programa. Pois é, já era possível programá-los, através da configuração das cordas e engrenagens.
A tecnologia não foi perdida na Idade Média. Em Constantinopla, no século 10, o trono do imperador era cercado de leões e pássaros que rugiam e cantavam automaticamente quando ele se sentava. Em 1206, o engenheiro turco Ismai l al-Jazari descrevia dezenas de autômatos em seu Livro do Conhecimento de Dispositivos Mecânicos Engenhosos. E continuou assim pelos séculos. Na Renascença, Leonardo da Vinci construiria uma armadura capaz de tapear as pessoas.
O tigre do sultão Tipu, em cima do soldado britânico / Wikimedia Commons
E a tecnologia se espalhou pelo mundo: em 1799, quando forças britânicas conquistaram Seringapatam, a capital do Reino de Mysore, depararam-se com um curiosíssimo invento: um tigre mecânico que atacava um soldado com seu uniforme, rugindo através de um órgão de tubos. Era uma piada sob encomenda para o Tipu Sultan, marajá conhecido como o Tigre de Mysore.
A coisa chegou até o Japão: no Período Edo, o país era isolado do mundo exceto pelo porto de Nagasaki, onde comerciantes holandeses podiam aportar para vender produtos europeus. Entre esses, estavam traquitanas como relógios cuco e autômatos de brinquedo. Engenheiros japoneses tomaram contato com essas criações e, usando de uma das especialidades tecnológicas do país, copiar e melhorar, como haviam feito com arcabuzes, passaram a criar os karakuri. A fascinação japonesa pelos robôs é muito mais antiga do que se pensa.
Karakuri japonês capaz de servir chá / Wikimedia Commons
Talvez aqui alguém esteja se perguntando: se máquinas tão sofisticadas existem desde sempre, por que o mundo não se tornou tecnológico mais cedo? Em parte, porque eram vistas como meras curiosidades. Por mais convincentes que fossem os autômatos, não eram mais que brinquedos, incapazes de qualquer função mais complexa do que indicar as horas.
Mas, por outro lado, eles levaram à tecnologia – ainda que só após muitos séculos de existência. A complexidade mecânica usada por engenheiros europeus para criar brinquedos – e relógios com brinquedos – seria crucial para coisas como o tear programável de Jacquard, base da Revolução Industrial.