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Os tropeços do salário mínimo

Poucas vezes na históriao valor subiu realmente

Carlos Minuano Publicado em 01/04/2006, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

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Aventuras na História - Arquivo Aventuras
Aventuras na História - Arquivo Aventuras

Até 1984, quando foi unificado, o mínimo tinha valores diferentes dependendo do estado. Desde sua criação, ele sempre foi bem menor do que a quantia necessária para a sobrevivência – hoje, cerca de 1 600 reais, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos). Os valores usados a seguir se referem a São Paulo.

1940 - 240 mil réis

A fixação do mínimo salarial era cogitada desde 1931. Mas a aristocracia agrária, arredia à idéia de pagar mais aos trabalhadores rurais, retardou o projeto até a Constituição de 1934, em que ele foi citado. De olho no apoio popular, o presidente Getúlio Vargas fixou seu valor pela primeira vez em 1940 – em valores atuais, 900,74 reais. Na época, a quantia comprava 1 100 passagens de bonde.

1954 - 2 300 cruzeiros

Desta vez eleito por voto popular, Getúlio amargou uma crise brava, acentuada pela inflação, 25,8% ao ano, e pela elevação do custo de vida. Com sua base popular enfraquecida, anunciou que o mínimo dobraria. A oposição não gostou e começou a tramar sua derrubada – afinal, o valor equivalia ao soldo de um segundo-tenente do Exército. O mínimo, em cruzeiros, seria hoje de 908,65 reais e bancava 1 533 passagens de ônibus.

1964 - 42 mil cruzeiros

Após a instalação da ditadura, a inflação foi às alturas (91,9% em 1964) e o poder de compra do mínimo despencou. A política de reajuste mudou: a base de cálculo deixou de ser a recomposição do valor real para manter um suposto “valor médio”. O salário dessa época equivalia a 849,90 reais, e pagava 700 passagens.

1968 - 129,60 cruzeiros novos

O governo militar de Costa e Silva prometia desenvolvimento econômico e combate à inflação, mas, com nova mudança na moeda, a inflação foi a 25,4% em 1968. A insatisfação alcançava cada vez mais setores da sociedade, que fizeram greves contra a política de arrocho e contenção – o presidente havia estabelecido um salário que pagava apenas 518 passagens (em valores de hoje, 646,81 reais).

1975 - 532 cruzeiros

No início do governo Geisel, a linha dura militar se recusava a relaxar a ditadura. A moeda muda outra vez, mas o cenário continua crítico, com queda na taxa de crescimento e aumento da dívida externa. Apesar disso, o mínimo vale um pouco mais, passando a ser suficiente para pagar 532 viagens de ônibus – em moeda atual, o valor cai para 522,93 reais (devido ao valor da passagem na época).

1979 - 2 268 cruzeiros

O país caminhava para a abertura política. O reajuste do mínimo, durante o governo Figueiredo, passa a ser semestral. Mesmo assim, a insatisfação dos trabalhadores era crescente – a inflação retornava a níveis inéditos desde 1964 (110% em 1982). Ainda assim, o salário comprava 567 viagens de ônibus (o mesmo que 563,17 reais).

1986 - 804 cruzados

Tancredo Neves adoece e Sarney assume com a promessa de uma reforma monetária. Abre uma série de planos econômicos com o Cruzado, em meio a uma inflação de 16% ao mês. Nova moeda, congelamento de preços e aumento de 18% para o mínimo. Porém, nos anos seguintes, ele registra uma perda de 24%. O poder de compra paga só 229 passagens de ônibus (462,75 dos atuais reais).

1990 - 3 674,06 cruzeiros

A inflação alcançava incríveis 80% ao mês – no ano, passou de 1 000%, após o fracasso econômico do recém-encerrado governo Sarney. Nesse cenário, surge o Plano Collor 1, anunciando, entre outras coisas, o polêmico bloqueio ao acesso de 80% dos ativos financeiros. Apesar da permanência da inflação, o poder de compra do mínimo avançou para 244 passagens de ônibus – hoje, 225,40 reais.

1995 - 100 reais

No governo anterior, o Plano Real já prometia estabilidade. Mais uma vez a moeda havia sido alterada – foi criada a Unidade Real de Valor (URV), uma ponte entre a moeda moribunda e a nova, o real. Em 1995, apesar da suposta estabilização, o salário continuou baixando, comprando apenas 153 passagens de ônibus – 86,1% a menos se comparado a quando o mínimo foi criado.

2006 - 350 reais

Após as habituais discussões com as centrais sindicais, o atual governo Lula, chacoalhado pela crise política, anuncia para abril o novo reajuste. De acordo com dados do Ministério do Trabalho, um aumento real (acima da inflação) de 13%. O novo salário mínimo pagará um pouco mais que o anterior, 175 passagens de ônibus. Mas representa um quarto de seu valor em 1940.