Sul é agrícola há 5 mil anos
Um grupo indígena planta milho durante o dia e, à noite, dança na aldeia. Essa cena já acontecia há quase 5 mil anos às margens do rio Canoas, no meio-oeste de Santa Catarina – e se sabemos disso é graças a descobertas à primeira vista banais, como a de resíduos de milho carbonizados em um pote de cerâmica. Testes recentes indicaram que o grão estava ali há 4 320 anos, e mostraram que nossos antepassados já plantavam, colhiam e levavam uma vida sedentária antes do que se pensava.
“Acreditava-se que os grupos que habitavam a região eram nômades, caçadores e coletores, e que uma organização mais complexa, de cultivo incipiente, só teria aparecido há 1 800 anos”, afirma o antropólogo Marco Aurélio Nadal De Masi, diretor do Laboratório de Antropologia Cultural e Arqueologia da Unisul Business School. “Mas descobrimos que, além dos resíduos de milho, de 2320 a.C., há 240 novos sítios arqueológicos, com datas a partir de 2860 a.C. É a primeira prova arqueológica de que a população da região já se organizava em um sistema econômico sedentário.”
Outra descoberta que a equipe de De Masi fez, baseada no ritual funerário, é sobre a etnia do grupo que ocupou a região: ele era xokleng, e não caigangue. Xokleng e caigangue são dois ramos dos gês, um dos grandes troncos lingüísticos indígenas brasileiros, ao lado dos tupis-guaranis. Os gês têm origem no centro-oeste brasileiro e plantavam milho. Os xoklengs cremavam seus mortos e colocavam as cinzas e objetos pessoais em cestos – diferentemente dos caigangues, que os enterravam. Na região do rio Canoas, os arqueólogos acharam áreas de roças, resíduos de fogueiras, centros cerimoniais e corpos cremados. E, com eles, copos, pratos e vasos de cerâmica típica dos gês. A equipe identificou sítios arqueológicos em Campos Novos, Abdom Batista, Anita Garibaldi e Celso Ramos – cidades que ganharam museus, como parte do recém-criado Projeto Danceiros de pesquisa permanente.
Livros
Índios e Brancos no Sul do Brasil: a Dramática Experiência dos Xokleng, Sílvio Coelho dos Santos, Movimento, 1987Santarém – PA
Na cidade, construída sobre o maior sítio pré-histórico da Amazônia, foi encontrada a segunda cerâmica mais antiga do mundo, com 8 mil anos. A mais antiga, de 12 mil anos, é do Japão. A presença de cerâmica é indício de uma população mais sedentária.
Boqueirão da Pedra Furada – PI
O sítio mais antigo da América, ao lado do chileno Monte Verde, tem 25 mil pinturas rupestres. Cientistas tentam provar que grupos coletores estavam lá há 60 mil anos, por conta de vestígios de fogueiras. Se conseguirem, mudarão a teoria da ocupação.
Serranópolis – GO
Na região foram localizados artefatos de pedra lascada e abrigos com pinturas rupestres datados de 11 mil anos atrás. Os povos seriam os ancestrais dos xokleng.
Lapa Vermelha – MG
O mais antigo fóssil humano da América, Luzia, achado neste sítio arqueológico, tem 11 500 anos. Luzia e seus conterrâneos viviam da coleta de frutos e da caça de animais.
Campos Novos – SC
Os sítios próximos ao rio Canoas indicam a presença de um povo sedentário, dedicado à agricultura, que habitava o local há 5 mil anos. No século 17, para fugir dos colonizadores, viraram caçadores-coletores – assim, tinham menos o que deixar para trás.