Tempo está dizimando os veteranos do conflito que definiu o século 20
No próximo mês de novembro, comemoram-se os 90 anos do armistício que pôs fim à Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o conflito que redesenhou as fronteiras da Europa e definiu os rumos do planeta ao criar as condições para uma segunda guerra intercontinental. Passadas nove décadas, ainda existem sobreviventes dessa guerra. Não são muitos: das 65 milhões de pessoas que se alistaram, conhecem-se apenas 14 que ainda estão vivas, sendo que só nove delas efetivamente pegaram em armas. Essas são as últimas testemunhas do conflito que matou mais de 9 milhões de militares. São ex-combatentes de idade muito avançada. O mais novo, o inglês Claude Choules, tem 106 anos, e o mais idoso, o britânico Henry Allingham, está com 111. Por isso, eles estão falecendo rápido. Nos últimos 12 meses, morreram todos os nove veteranos alemães, e os americanos perderam sete de seus oito.
Os sobreviventes são contabilizados por cada país, porque não existe uma regra de identificação dos veteranos de guerra. Os Estados Unidos consideram todos os que se alistaram até 1918, mesmo que não tenham lutado. A França só reconhece como veteranos aqueles que estiveram em campos de batalha por ao menos três meses. A Alemanha, que perdeu a guerra, não mantém um registro oficial. No país, a crise que se seguiu à derrota é considerada a causa da ascensão do nazismo. Por isso, a morte do último veterano alemão, Erich Kästner, em janeiro, passou despercebida, enquanto que o falecimento do francês Louis de Cazenave, no mesmo mês, foi comentada até pelo presidente Nicolas Sarkozy.
Os ex-combatentes costumam dar longas entrevistas a respeito de suas experiências. Cazenave era famoso por suas declarações pacifistas. “Você deveria ouvir os feridos entre as linhas [de batalha]. Eles pediam por suas mães”, contou ele ao jornal francês Le Monde. O inglês Harry Patch, de 109 anos, concorda. “Não valeu a pena”, ele disse para a rede BBC. “Nenhuma guerra vale a perda de tantas vidas, que deixam milhares de pessoas desamparadas.
Claude Choules
Inglês de 106 anos, mora na Austrália. Aos 14 anos, forjou uma carteira de identidade para entrar na Marinha. Foi recusado, mas anos depois conseguiu se alistar. Lutou no mar do Norte por dois anos.
Lazare Ponticelli
Tem 110 anos e hoje vive em Paris. Nascido na Itália, mas naturalizado francês, lutou por ambos os países e foi seriamente ferido duas vezes. Quando morrer, vai virar estátua na França.
Delfino Borroni
Aos 109 anos, vive na Itália. Em 1917, foi feito prisioneiro de guerra pelo Exército da Áustria e obrigado a cavar trincheiras. Não lutou na Segunda Guerra, mas foi ferido por uma explosão.
Francesco Chiarello
Tem 109 anos e mora na cidade de Umbria. Destacado para atuar com a infantaria italiana na Albânia durante a Primeira Guerra, ainda lutou na Segunda Guerra durante seis meses, em 1940.
Yakup Satar
Turco de 109 anos, entrou para o exército do Império Otomano em 1915. Em 1917, foi feito prisioneiro pelos ingleses. Solto em 1919, lutou na guerra pela independência da Turquia.
Henry Allingham
Com 111 anos, este inglês é o veterano mais idoso, além de ser o último sobrevivente da batalha naval da Jutlândia, ocorrida em 1916 contra os alemães. Também atuou na Força Aérea no front francês.
Harry Patch
Inglês de 109 anos, lutou na batalha de Passchendaele, na Bélgica, que custou 500 mil vidas em três meses. “Se alguém que esteve lá disser que não sentiu medo, está mentindo”, ele já disse.
William Stone
Veterano das duas grandes guerras, alistou-se na Marinha inglesa em 1918 e serviu até 1945. Em 1940, participou da retirada inglesa em Dunquerque. Aos 107 anos, vive na Inglaterra.
Franz Kunstler
Austríaco, tem 107 anos e mora na Alemanha. Último soldado vivo do antigo Exército Austro-Húngaro, atuou na infantaria contra os italianos, em 1918.