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Segunda Guerra Mundial: batalhas sem vencedores

Segunda Guerra Mundial: batalhas sem vencedores

Ricardo Bonalume Neto Publicado em 01/05/2007, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

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Aventuras na História - Arquivo Aventuras
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A idéia que fazemos de uma batalha vem diretamente dos gregos, os pais do “modo ocidental de guerrear”. Dois grupos de homens armados encontravam-se em um lugar aberto e amplo, chamado apropriadamente “campo de batalha”, e lutavam de preferência até um vencer de modo decisivo.

Isso nem sempre acontecia e as guerras podiam se prolongar. Mas a idéia da importância histórica da batalha decisiva voltou à moda no século 19, graças a um bestseller escrito por Edward Creasy (1812-1878). As 15 Batalhas Decisivas da História do Mundo, de 1851, foi um clássico que influenciou historiadores militares desde então. Claro, era um típico produto de sua época: das 15 batalhas, dez são entre europeus, das quais cinco envolvem britânicos; as outras envolvem o que hoje é comum chamar “choque de civilizações” entre Europa e Ásia.

Assim como nem toda batalha decide algo, também existem confrontos difíceis de chamar de batalha. Muitas vezes, ela só ganha o nome depois. Isso acontece particularmente na Segunda Guerra, um conflito de longa duração. É o caso de uma “batalha” que hoje consideramos “decisiva”, mas que na época não tinha essa conotação. A Batalha da Grã-Bretanha, que alguns chamam de Batalha da Inglaterra, foi algo atípico. O ataque aéreo alemão às ilhas britânicas seria o prelúdio de um desembarque de tropas. A batalha desenrolou-se ao longo de meses e não teve uma data fixa para seu final. Foi “decisiva” porque manteve o Reino Unido na luta, impedindo uma vitória alemã.

A luta contra os submarinos alemães que ameaçavam estrangular os britânicos ao cortar seu comércio marítimo também ganhou o nome de batalha. Pode-se dizer que foi a mais longa de todas: a Batalha do Atlântico aconteceu do primeiro ao último dia da guerra, com seu auge em 1943, quando os alemães foram decisivamente derrotados.

Essa e outras “batalhas” de longa duração mereceriam mais apropriadamente o nome de “campanhas”. Raros foram os momentos na Segunda Guerra em que uma batalha aconteceu do modo “grego”, em apenas uma tarde. Exércitos eram contados aos milhões na maior guerra da humanidade.

A batalha de Midway

A história militar tradicional sempre deu grande peso ao papel dos líderes, generais e almirantes. Mas nas guerras da era industrial, da era das massas, o papel de um líder muitas vezes é apenas simbólico. Apesar disso, houve momentos em que um pequeno número de indivíduos exerceu influência bem acima do normal – notadamente em batalhas navais. E não é só o caso dos comandantes. Um dos melhores exemplos é a Batalha de Midway, uma que certamente merece ser chamada de decisiva.

Os japoneses erraram ao tentar fazer duas coisas ao mesmo tempo: tomar essa ilha no meio do Oceano Pacífico e usar isso como pretexto para destruir o que restava da Marinha americana, especialmente seus porta-aviões. Ainda por cima, o almirante japonês Isoroku Yamamoto fez um plano de ataque ultracomplicado, dividindo suas forças em nove grupos separados!

Os americanos tinham a vantagem de saber do ataque com antecedência, pois tinham quebrado o código das comunicações da Marinha japonesa. Mas os japoneses poderiam ter ganhado mesmo assim graças à superioridade que tinham. No fundo, os americanos tiveram muita sorte. Os comandantes de dois grupos de bombardeiros de mergulho SBD Dauntless continuaram a busca do inimigo na direção certa; e chegaram ao alvo depois de aviões torpedeiros, que foram massacrados pelos caças japoneses, mas os mantiveram em altitudes baixas. Em questão de minutos, a batalha foi decidida com o afundamento dos principais porta-aviões do Japão.

Justamente por isso, Midway costuma ser um dos casos usados quando se tenta refletir no que poderia ter acontecido na guerra, algo que alguns chamam de “história contrafactual”. Midway é uma das batalhas comentadas no interessantíssimo livro E se? Como seria a História se os Fatos Fossem Outros (What If?, de 1999; editado em português em 2003).

E se os japoneses tivessem vencido a batalha? Os americanos teriam de se voltar mais para a guerra no Pacífico, invertendo a prioridade que tinha sido estabelecida com os britânicos de cuidar da guerra na Europa em primeiro lugar. O resultado poderia ser dramático. Não haveria um Dia-D na França tão cedo, correndo-se o risco de a União Soviética tomar todo o continente antes que os anglo-americanos desembarcassem.

Toda a Europa Ocidental poderia ter virado comunista, algo que também poderia ter acontecido se o desembarque na Normandia tivesse falhado (outro capítulo do livro).

Os americanos poderiam ter de usar a bomba atômica em outros alvos pelo mundo; ou quem sabe nem a teriam desenvolvido, já que precisariam usar os recursos para uma mais urgente defesa de seu próprio território.

Às vezes, uma batalha é decisiva porque generais ou líderes políticos erraram na estratégia e milhões de soldados combateram com ferocidade – como em Stalingrado ou Kursk, na frente russa. Às vezes, um detalhe pode fazer diferença. E se um avião de reconhecimento japonês não tivesse tido uma pane, e a frota americana tivesse sido localizada antes?

Ricardo Bonalume Neto, 46 anos, é repórter da Folha de S. Paulo especializado em ciência e assuntos mili­tares. Cobriu conflitos em vários continentes e é autor de A Nossa Segunda Guerra – Os Brasileiros em Combate, 1942-1945.